SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quinta-feira, 13 de setembro de 2012

PALAVRAS SILENCIOSAS - 12


                                      Rangel Alves da Costa*


“Pensamentos impossíveis de realização...”.
“Dificilmente alguma coisa é impossível de realização...”.
“Mas diante do que pretendia, sim. Totalmente impossível...”.
“O que seria, então?”.
“Simplesmente levantar cedinho e sair por essa vida aventureira...”.
“Não estou entendo bem...”.
“Entenda pelo lado mais previsível. Simplesmente levantar, abrir a porta, abraçar a manhã e seguir por qualquer estrada...”.
“Seguindo em qual direção, procurando alcançar o que?”.
“Eis o segredo da liberdade, ou da absoluta liberdade...”.
“O sonho hippie voltou?”.
“Eles era felizes e não sabiam!...”.
“Talvez tivessem outros objetivos que não a liberdade de travessia...”.
“E foram se perdendo pelos caminhos...”.
“Mas ainda existem os persistentes, mas creio que com outros idealismos...”.
“Mas também o contraponto que queriam impor quase não existe mais...”.
“Contrapontos, pois levavam na mochila muitas contradições à realidade existente...”.
“Pois é, a mudança cultural do povo, a sua visão mais esclarecida sobre as situações de vida, as permissividades, os sonhos antigos e as utopias que se mostraram infrutíferas, tudo isso fez com que os idealismos hippies fossem perdendo força...”.
“Então, por que essa vontade tão grande de seguir estrada?”.
“Eis outro mistério. O que sinto é apenas vontade, desejo, assim como uma coisa que num instante vem à cabeça...”.
“Gravidez mental?”.
“Até parece. Vontade de sorvete do impossível, suco do inexistente, um pedaço de nada...”.
“Mas sua vontade não deixa de ter fundamento. De vez em quando também sonho em pegar meu alforje de caçador e me fazer peregrino pelos caminhos e veredas da vida”.
“Logo me vem à mente a estrada, o chão, a terra, a curva, o norte, o sul...”.
“E também o horizonte, a hora marcada pelo sol, as pedras, os espinhos, as paisagens ao redor, o passo, a pressa e a vontade de nunca chegar...”.
“Lógico. Chegar não faz sentido algum...”.
“Se o objetivo for um número na porta, uma casa, um lugar, não haverá liberdade na caminhada, mas viagem com endereço certo”.
“Eis a grande diferença...”.
“E enorme diferença. O sonho da caminhada implica em liberdade, em descompromisso, em seguir sempre adiante, em não olhar pra trás, não ter hora pra voltar e até não querer voltar...”.
“Mesmo que seja por uma estrada curta...”.
“Sim, pois aquele que bota o pé na estrada como fuga interior, como forma de sair um pouco daquela realidade deixada atrás, pensa apenas em viver o momento e cada passo disso permitido...”.
“E de pés descalço, com cabelo ao vento, recebendo no rosto o aceno da ventania...”.
“A síntese da liberdade no caminho é esta: um ser que segue como se da estrada fosse, um caminhante que bem poderia ser um animal da floresta, alguém que vai sem praticamente sentir que está indo em frente...”.
“E dentro da mente apenas a possibilidade de alcançar mais liberdade, de seguir em frente, de avistar tudo aquilo que um dia sonhou um dia”.
“E aos olhos dos outros apenas o estranho, ou talvez o errante, o louco, o caminhante sem destino...”.
“Mas dentro de si, do próprio caminhante, uma paz indescritível, quase um voo, quase um renascimento”.
“Como essa caminhada é realmente impossível por enquanto, então restaria abrir a porta ao amanhecer...”.
“E caminhar ao redor, seguir pelas redondezas...”.
“Também, mas principalmente erguer os braços para o alto e...”.
“Mentalmente voar...”.
“Sim. Voar, voar!...”.



Poeta e cronista
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