SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



terça-feira, 4 de setembro de 2012

PALAVRAS SILENCIOSAS - 3


                                             Rangel Alves da Costa*


“Estava pensando...”.
“Pensando em que?”.
“Talvez fosse necessário a gente fazer uma coisa diferente hoje...”.
“Como assim...”.
“Assim como caminhar por aí, subir montanha, sentar nas pedras do rio...”.
“Não haveria coisa melhor. O meu espírito precisa de momentos assim”.
“O meu ser inteiro precisa de momentos assim”.
“Só mesmo a paz e a beleza daquelas paisagens para fortalecer nossas almas”.
“Nunca mais ouvi um canto de passarinho...”.
“Nuca mais colhi flores do campo...”.
“Nunca mais abri os braços para a liberdade...”.
“Nunca mais conversei com os bichos...”.
“Preciso também fazer uma coisa...”.
“O que?”.
“Falar com a pedra, conversar com a pedra...”.
“Estranho que você queira dialogar com pedra”.
“Por que você acha estranho?”.
“Porque a voz da pedra é muito difícil de ser ouvida”.
“Pensei que você ia dizer outra coisa...”.
“O que?”.
“Que pedra é só pedra, não fala, não tem sentimentos...”.
“Não. De jeito nenhum. Eu também já conversei muito com pedra...”.
“E o que aprendeu?”.
“Muitas lições importantes...”.
“O que, por exemplo?”.
“Aprendi que a aparência sempre possui outro lado a ser revelado”.
“A aparência de pedra...”.
“Aprendi que é possível cativar o coração mais impensado”.
“O coração de pedra...”.
“Aprendi que a feição nasce com a gratidão”.
“O reconhecimento à pedra...”.
“Aprendi que a solidão é dor muito além do sentimento humano”.
“A solidão da pedra...”.
“Aprendi que o sólido amolece com o toque, a palavra, o abraço...”.
“A solidez da pedra...”.
“Aprendi a ouvir o silêncio”.
“O silêncio da pedra...”.
“Aprendi a ver a vida com outros olhos”.
“Pelos olhos da pedra...”.
“Aprendi a força do vento, da chuva, dos dias e das noites...”.
“Os anos da pedra...”.
“Aprendi que a rocha se transforma em grão e...”.
“E o vento vai levando”.
“Sim, o vento vai levando. O que era pedra, mais tarde o grão, o vento, o ar e...”.
“E a morte”.
“Sim, a morte, mas também renascimento. E eis a grande diferença”.
“Por que a grande diferença?”.
“Porque o grão vai sendo levado pelo vento até cair em qualquer lugar. E grão sobre grão vai formando uma nova pedra, fazendo-a renascer. Mas com os seres humanos...”.
“Apenas são levados...”.
“Sim, apenas são levados. Por isso eu queria ser pedra. Você queria ser pedra?”.
“Sendo você a pedra, prefiro ser aquele que chega para o abraço!”.


  
Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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