SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



domingo, 30 de setembro de 2012

PALAVRAS SILENCIOSAS - 29


Rangel Alves da Costa*


“Impossível fugir. Elas sempre chegam...”.
“O que?”.
“As recordações...”.
“Nossa mente tem portas e janelas abertas...”.
“Para visitantes inesperados...”.
“O passado retornando...”.
“Prova maior de que temos uma história...”.
“Mas a história dos outros também...”.
“Sim, e geralmente a história de quem amamos e que sentimos falta...”.
“Menos angustiante seria relembrar coisas da infância, da adolescência, percursos agradáveis da vida...”.
“Mas lembramos isso também...”.
“Mas tudo muito rápido, tão passageiro...”.
“Porque nos conhecemos, e basta tal fato para não darmos muita importância ao que fizemos, ao nosso passado...”.
“Mas por que se pensamos noutras coisas ficamos martirizados?”.
“Para entender melhor o que passou, a pessoa, o momento, a situação vivida...”.
“Seria tão bom que recordássemos os nossos de um jeito feliz, agradável...”.
“Mas pensamos assim...”.
“Então não deveria doer tanto...”.
“Mas dói porque nunca acostumamos com a perda, com a ausência, com a distância...”.
“E na mente chega a fotografia, a face, a feição, a lembrança de um dia...”.
“E sempre de um modo bonito, cativante, não é mesmo?”.
“Sim...”.
“Mais uma prova de que buscamos aquilo que nos faz falta...”.
“Nunca pensei que a morte causasse tanta presença...”.
“Talvez de ambos os lados...”.
“Partiram, mas estamos retomando sempre suas presenças...”.
“E talvez do outro lado também...”.
“Acredita que vêm também à nossa presença?”.
“É uma questão intrigante. Há os que acreditam na morte como o fim de tudo, já outros apenas como a ausência do corpo e a continuidade do espírito...”.
“No seu ponto de vista...”.
“Fico com o velho Shakespeare: Há muito mais coisa entre o céu e a terra do que imagina nossa vã filosofia”.
“Se há a alma é imortal, o espírito é sopro divino que não se apaga, então não seria difícil a presença entre nós”.
“O problema é saber como se manifesta...”.
“Há de ser presença de luz...”.
“Sem a expressão de sentimentos...”.
“De modo contrário seria apenas a continuidade da vida, e de forma ainda mais sofrida...”.
“E isto nos cabe abraçar...”.
“Daí porque sofremos tanto com as perdas...”.
“Sofrimento por amor, por saudade...”.
“O sorriso...”.
“A palavra...”.
“O gesto...”.
“O que gostava de fazer...”.
“Como gostava de viver...”.
“Para enfim...”.
“Ser apenas saudade...”.
“Mais que isso: uma amorosa saudade...”.
“Por isso não deveria doer assim...”.
“Mas talvez essa tristeza sentida seja apenas recordar...”.
“Por quê?”
“Por que quando se torna presença tudo se torna afetuoso e sublime...”.
“O contentamento pelo reencontro...”.
“Sim. Presença e ausência que se aproximam pelo amor sentido!”.


Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com
 

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