SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



domingo, 9 de setembro de 2012

O TEMPLO E O TEMPO (Crônica)


                                                    Rangel Alves da Costa*


Indubitavelmente que a ideia de templo logo remete à noção de tempo. Aquele a eternidade, este o caminho; aquele o culto ao permanente, este a permanência; aquele a esperança infinita, este a procura da continuidade.
Quando falo de templo me refiro exatamente à construção destinada à adoração religiosa, à prática do catolicismo, ao local onde são celebrados os ritos místicos; reporto-me precisamente a qualquer edificação em que se presta culto à divindade, ao lugar sagrado e de devoção, à igreja, catedral, paróquia, santuário.
Por sua vez, quando menciono tempo, o faço para dizer da medida de duração dos seres e das coisas, da constante movimentação da vida, do percurso de uma época à outra, do passado, do presente e do futuro; mas principalmente para situá-lo como passagem. E neste aspecto também como idade, calendário, relógio, como o ontem e o hoje.
 No templo, a presença de Deus – ou deuses – e santos e anjos, como mistérios que tornam os seres humanos incansáveis na busca da salvação. E como a salvação é para além da morte, para a eternidade, então logo se percebe a presença da temporalidade também no culto religioso.
Ora, ao entrar num templo, a pessoa parece ser totalmente transformada, deixando o terreno para alcançar o etéreo. O templo vai além da edificação, de uma simples ou majestosa construção, e logo se torna num portal para o infinito, numa escada imaginária através da qual se alcança o céu, o paraíso. E nessa viagem há o desprendimento total do existente ao redor, do mundo lá fora, da realidade circundante. Nesta perspectiva, o tempo simplesmente não possui existência alguma.
No templo, as horas simplesmente parecem inexistentes. Ninguém vai até ali para falar dois minutos com Deus, orar por cinco minutos, se ajoelhar e pedir proteção para si mesmo e os seus olhando para o relógio. Se no templo está o portal para o acolhimento, para o auxílio e o amparo, para buscar meios de não sucumbir diante da realidade e do desconhecido, então não seria de se imaginar que a pessoa desse mais importância ao horário da novela do que ao seu devocionamento.
Logicamente que nem todo mundo dá a devida importância à catedral ou à igrejinha de sua rua. Muitos existem que jamais entraram num templo por vontade própria, que jamais assistiram qualquer culto religioso, e até sequer imaginam como é uma igreja por dentro. Concebem que a vida lá fora é cheia de coisas mais importantes, que existe a festa, a balada, o bar, a farra, e assim procuram gastar o seu tempo o mais distantemente do templo.
Estes têm hora marcada para sair e não para voltar, têm hora para o encontro, marcam compromissos para amanhã ou depois, imaginam que dali a alguns anos estarão de um jeito ou outro. Tornam-se escravos do tempo sem perceber que a espiritualidade e a religiosidade podem perfeitamente fazer com que esse tempo que têm como importante demais seja algo como eternizado.
Algo como eternizado porque o templo tem o dom do fortalecimento espiritual, de transformar a religiosidade num verdadeiro suporte de vida e, por consequência, preparar o indivíduo para o enfrentamento da realidade com mais segurança, mais fé, e tendo a crença como inibidora dos malefícios do mundo. E o mais importante: o ser fortalecido que sai do templo está muito melhor preparado para alcançar a eternidade da alma.
Assim, o templo amplia o tempo da pessoa de fé, pois conhecedora de que é a partir de suas ações terrenas que poderá alcançar a eternidade; o templo torna o tempo humano como algo infinito, vez que a religiosidade logo transmite uma ideia de linearidade, de algo sempre existente desde o início de tudo e para o sempre; o templo possibilidade que o tempo seja compreendido e vivido com muito menos pesar, pelos sacrifícios da vida, pelas dores do mundo.
E é num templo que o ser humano reflete melhor sobre o seu tempo, seu próprio ser, sua existência. E depois olha adiante e se permite dizer que Deus é e sempre será eterno em seu coração. Eis que confirmou seu senso de imortalidade na fé.

  

Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com 

Nenhum comentário: