Rangel Alves da Costa*
Não que a inteligência de alguém – e esta tida como perspicácia de espírito e aptidão intelectual – possa ser mensurada pelo que ouve, lê, assiste, pratica ou come. Não, pois a inteligência nada mais é do que a capacidade firmada no próprio indivíduo para buscar o conhecimento profundo dos fenômenos.
Contudo, ao lado da capacidade intelectual de melhor entender, pensar, raciocinar e interpretar, o indivíduo pode muito bem mostrar seus dotes de inteligência fugindo da mesmice e optando por escolhas menos óbvias e que tanto caracterizam o gosto vulgar da maioria da população.
Assim, um gosto mais refinado, um requinte na escolha e uma exigência maior naquilo que usufrui, são evidentes sinais de pensar um pouco diferente da maioria e também uma demonstração de que faz parte de uma pequena parcela da população com grau de cultura diferenciado. A existência de pessoas assim, com hábitos culturais diferenciados, são os sinais mais evidentes da existência de vida inteligente na terra.
Mas a partir de quais ações tais sinais poderiam ser perceptíveis? Ora, dentre outras coisas, simplesmente pela escolha da música, do filme, do livro, etc. Logicamente que é uma opção minha, apontando aquilo que mais gosto, mas não é nada demais perguntar se você também gosta de alguma coisa do que é citado abaixo.
Ao entardecer, ou mesmo na penumbra da noite, você já ouviu Barcarole, de Carl Offenbach; A Flauta Mágica, de Mozart; O Fortuna (Carmina Burana), Carl Off; Alvorada, de Grieg; Danúbio Azul, de Strauss; Toccata e Fuga, de Bach; A Quinta Sinfonia, de Beethoven; as Ave Maria, de Gounod e Schubert; Eine Kleine Nachtmusik, de Mozart; Jesus, Alegria dos Homens, de Bach; O Lago do Cisne, Tchaikovsky; Intermezzo de Cavalaria Rusticana, de Mascagni? E já ouviu principalmente Villa Lobos (Bachianas Brasileiras) e Guerra Peixe (Mourão)?
Nesses momentos de descanso ou repouso que a vida felizmente ainda permite, você já leu Jorge Amado, Clarice Lispector e José Mauro de Vasconcelos? E os livros O Morro dos Ventos Uivantes, Emily Brontë; O Fio da Navalha, de Sommerset Maugham; A Boa Terra, de Pearl. S. Buck; O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry; Crime e Castigo, de Dostoievski; Guerra e Paz, de Tolstói; Cem Anos de Solidão, de Garcia Marquez; O Velho e o Mar, de Ernest Hemingway; As Vinhas da Ira; de John Steinbeck. Você já leu principalmente A Bíblia Sagrada?
Mesmo que não seja recentemente, mas algum tempo você já gostou de Ponteio, de Edu Lobo; de Águas de Março e Chega de Saudade, de Tom Jobim; Clube da Esquina II, Espanhola e Todo Azul do Mar, com Flávio Venturini; Sá Marina, de Wilson Simonal; Corsário e O Bêbado e o Equilibrista, de João Bosco; Espelho, de João Nogueira; Porto Solidão e Solidão de Amigos, de Jessé? Gosta e ainda ouve Gonzaguinha, Diana Pequeno, Vital Farias, Ednardo, Fagner, Belchior, Milton Carlos, Pena Branca e Xavantinho?
Você gosta de cordel, de repentes, de cantoria, de artesanato em barro e madeira, aprecia arte sacra, valoriza o sincretismo religioso, entende a força misteriosa das oferendas, aprecia o folclore, procura conhecer as lendas e os mitos, tem interesse pela religiosidade popular? Não discrimina a culinária e enche a boca d’água só em pensar numa boa buchada, num sarapatel gordo, numa galinha de capoeira, num cabrito assado, num pernil de porco suculento?
Como visto, foi misturado sagrado e o profano, o erudito e o popular, como forma de mostrar que desde as clássicas opções até as escolhas mais comuns, podem dizer do senso de escolha mais apurado ou não da pessoa. De qualquer forma, basta ter a capacidade de fugir das mesmices, dos modismos ou das imposições, para ser considerado dentre aqueles que pensam diferente na terra, que gozam de um mínimo de lume no pensamento.
Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário