Rangel Alves da
Costa*
Para falar
sobre Dona Mazé Crente, necessário que se antecipe uma observação: Nenhuma
pessoa, por melhor coração que possua ou que apenas viva para dignificar sua
existência, jamais será unanimidade no reconhecimento dos outros. Como aqueles
lírios bíblicos florescendo nos campos, ainda assim surgirão ervas daninhas
querendo se sobrepor. E macular sua grandeza na vida.
Fiz tal
afirmação por motivo óbvio. A verdade é que de uma hora para outra Dona Mazé
passou a ser odiada por um ou outro, passou a ser atacada e até ameaçada
naquilo a que se dedica com o mais profundo amor: seu canteiro florido. Por que
cultiva e zela do único espaço verde existente em Poço Redondo, e alguns
desejam desertificar a vida, então se voltam, erroneamente, contra a pessoa.
Que mal faz Dona Mazé em cuidar, amar e querer proteger seu jardim?
Desde que
chegou às terras sertanejas de Poço Redondo, lá pelos idos de 1978, acompanhada
do esposo, parentes e filhos pequenos, Dona Mazé sempre foi reconhecida pela
sua amizade, sua simplicidade, pelo seu jeito carinhoso de ser e conviver.
Pessoa humilde, de família cujos recursos são aqueles apenas da digna
sobrevivência, não conduziu sua vida senão para semear o bem. E duvido que
possam negar tal afirmação.
Maria José
Pereira Santos, ou simplesmente Dona Mazé Crente, já chegou aos 77 anos e
destes já são 36 anos de Poço Redondo. Viúva há cinco anos, mãe de doze filhos,
com a maioria destes tendo nascido na nova morada, de profunda religiosidade,
“crente”, de porte altaneiro e sorriso permanente no rosto, ainda que as marcas
do tempo e os acasos da vida sempre insistam em entristecer. Mas não conseguem.
Pois bem.
Um dia, numa época de um Poço Redondo com praças arborizadas, canteiros
floridos e natureza primaveril por todo lugar, Dona Mazé se encantou de tal
forma com aquela abundância verdejante que logo procurou trazer um pouquinho de
tudo aquilo para perto de si. Então, ali mesmo ao redor de sua morada, cuidou
de transformar os canteiros existentes em lugares vivos e prazerosos. Plantou,
regou, cuidou, viu florescer belos jardins.
E já se
passaram 36 anos daquela primeira muda fincada na terra esturricada dos
canteiros sem vida. Atualmente só lhe resta um canteiro, defronte à sua casa,
mas dele continua cuidando como uma mãe à sua pequena e amada cria. Como aquela
história do menino Zezé do livro “Meu pé de laranja lima”, que foi se
afeiçoando de tal modo à sua árvore frutífera que com ela conversava e contava
segredos, bem assim é a relação de Dona Mazé com o seu canteiro florido.
Durante
toda uma vida, logo ao alvorecer e após o entardecer, vai a sorridente senhora
levando balde, cuia, caneco, mangueira. E vai a contente senhora banhando seus
filhos de folhas e flores. E vai a mulher maravilhada com sua cria em carinhos,
em palavras, em gestos afetuosos, num relacionamento tão humano que faz admirar
a quem passa. E também vai a cuidadosa senhora atrás de novas mudas, de plantas
bonitas, de flores novas, tudo num único objetivo: através de seu jardim,
alegrar-se a si mesma e a seu amado Poço Redondo.
Sim, seu
amado Poço Redondo porque Dona Mazé, mesmo não sendo filha da terra, fincou
raiz e floresceu o amor mais belo pelo lugar. Chegou com filhos ainda pequenos
e hoje já são adultos, alguns casados, todos sentindo o mesmo amor da mãe por
aquele jardim. Mesmo no desalento da viuvez, se enche de contentamento por
aquilo que se entregou de coração. Vive os seus dias e suas horas na casa
singela da Rua Manoel Pereira, alimenta sua alegria pela vida com o que
encontra adiante, assim que lança o olhar após a porta: seu canteiro florido.
Contrariamente
ao que se imaginaria, neste texto não adentrei em maior profundidade na questão
que foi criada envolvendo o seu canteiro. Já há uma decisão sobre isso, e
certamente não é humana. A ação impensada do homem estará contrariando a
vontade divina. E também a da grande maioria da população poço-redondense.
Portanto, não vejo mais sentido em continuar repetindo o porquê de aquele
canteiro ter de continuar no local e do jeito que está, senão ainda mais belo.
É uma questão de bom senso, apenas. Ou uma questão de não transformar pequenos
ódios num mal maior.
Contudo,
será sempre preciso reafirmar sobre as qualidades e as virtudes de Dona Mazé. E
também agradecer pela sua amizade, sua presença entre nós e seu
canteiro/jardim, pois, como disse o poeta: Alegra-te o coração, vai em direção
a um jardim florido!
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário