SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



terça-feira, 3 de novembro de 2015

Palavra Solta: entardecer


Rangel Alves da Costa*


Segundo já ouvi, o entardecer é a tarde querendo adormecer. Ou talvez a tarde se mostrando poesia e lançando pelos horizontes seus últimos versos. Seja como for, a verdade é que o entardecer sempre chega como um portal aos instantes mais sublimes do dia, eis que daí em diante a simbologia religiosa da chegada da noite e a nostalgia com os baús saudosistas que vão sendo abertos noite adentro. Mas o entardecer se diferencia de tudo. Os sentimentos começam a aflorar, os de bom coração se humanizam ainda mais, os enamorados vão buscar nas saudades seus possíveis encontros. Há poesia na cor, na feição, no semblante. Os espaços amarelados, alaranjados, avermelhados, afogueados, tudo na tela deslumbrante. As águas abaixo e sol sumindo ao longe, as serras adiante e sol avermelhando seu cume, o olhar se deixando levar pelas tintas da emoção. E logo o crepúsculo, o instante em que tudo fica mais tingido e mais bonito, onde os últimos raios lançam suas cores entre as nuvens e o silêncio nas distâncias faz querer voar. Instante de brisa boa, de sopro perfumado, de encantamento. A janela que se abre e a cortina que se embala com a música do instante. E a lágrima que cai vai se juntando ao mar no seu último azul do dia.
                                      

Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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