SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Palavra Solta: os meninos pelados


Rangel Alves da Costa*


Já fui menino malino, danado, já fui menino pelado. Não somente eu, mas muitos na minha idade de meninice. Andava nu, corria nu, brincava nu. Tempo bom o daquele nudez. Ademais, vivendo debaixo do calor sertanejo, com o suor respingando em tudo e o poeirão das estradas e descampados tomando conta da vida, seria até fatigante estar todo vestido. E também porque o menino devia estar preparado para sair em correria a qualquer instante, devia estar sempre disposto a se danar pelo meio do tempo, a brincar e a malinar com tudo que houvesse ao redor. Em épocas de chuvarada então, seria muita perda de tempo descer todas as roupas enquanto os pingos chamavam à festança. As épocas das trovoadas deixavam a meninada num alvoroço danado. Em tais períodos chuvosos, de pingo d’água maciço, toda a meninada corria junta para o meio da rua. Ali, na festa da molhação, tanto meninos como meninas se lambuzam nas poças, se fartavam embaixo das biqueiras, dançavam e pulavam à vontade debaixo da nuvem. É como um retrato amarelado mostrando a nudez em festa, os meninas de corpo inteiro e as meninas da calcinha pra cima. Banhavam-se nos mesmos locais, debaixo das mesmas torrentes, se lambuzando pelas mesmas poças, se jogando pelas mesmas calçadas, mas sem gracejos ou piadinhas pela nudez, sem quaisquer tipos de insinuações. Apenas meninos vivendo seu mundo.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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