Rangel Alves da Costa*
Da janela lateral, do quarto de dormir, assim
diz a música de Beto Guedes. E vai tecendo os mistérios, os segredos, as
belezas, as tristezas, as alegrias e os desalentos, a partir de uma janela de
quarto de dormir. Com efeito, as janelas são pura poesia, principalmente as
interioranas. E no seu umbral que a mocinha triste se posiciona todo entardecer
para sonhar e chorar. Quer um príncipe encantado, quer voar, quer viver, quer
namorar, quer namorar, mas nada acontece além daquela janela. De um lado a
solidão da rua, do outro a rua solitário, e por todo lugar a ventania que passa
levando folhas velhas num entristecimento sem fim. Da janela a vizinha toma
conta da vida de todo mundo. De seu pé, nos arredores da calçada, surgem as
fofocas, as aleivosias, as difamações. Não há vida que passe adiante que não
seja avistada da janela. Mesmo entre as frestas, tudo se percebe: a roupa
bonita, o caminhar faceiro, o requebro exagerado, o passo suspeito, a pressa e
a correria. O mundo pode não saber do que se passa lá fora, mas quem está na janela ou nas suas
frestas sabe de tudo. Mas ainda assim a janela é de encantamento. Ali o
enamorado deixa o seu bilhetinho apaixonado, o desejoso de namorico logo coloca
um buquê. De repente, um bilhetinho é jogado quarto adentro, de repente a
donzela surge cheia de sibiteza. Que doçura é a janela. E de imensa tristeza
também. Quando fechada e a ventania bate e retorna, é como se estivesse
chamando alguém. Se aberta, porém na casa abandonada, apenas o sopro do vento
com sua canção de saudade. Talvez alguém esteja lá dentro. Ninguém sabe. Sabe
apenas da janela e seus mistérios.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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