SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Palavra Solta: da janela


Rangel Alves da Costa*


Da janela lateral, do quarto de dormir, assim diz a música de Beto Guedes. E vai tecendo os mistérios, os segredos, as belezas, as tristezas, as alegrias e os desalentos, a partir de uma janela de quarto de dormir. Com efeito, as janelas são pura poesia, principalmente as interioranas. E no seu umbral que a mocinha triste se posiciona todo entardecer para sonhar e chorar. Quer um príncipe encantado, quer voar, quer viver, quer namorar, quer namorar, mas nada acontece além daquela janela. De um lado a solidão da rua, do outro a rua solitário, e por todo lugar a ventania que passa levando folhas velhas num entristecimento sem fim. Da janela a vizinha toma conta da vida de todo mundo. De seu pé, nos arredores da calçada, surgem as fofocas, as aleivosias, as difamações. Não há vida que passe adiante que não seja avistada da janela. Mesmo entre as frestas, tudo se percebe: a roupa bonita, o caminhar faceiro, o requebro exagerado, o passo suspeito, a pressa e a correria. O mundo pode não saber do que se passa lá fora, mas             quem está na janela ou nas suas frestas sabe de tudo. Mas ainda assim a janela é de encantamento. Ali o enamorado deixa o seu bilhetinho apaixonado, o desejoso de namorico logo coloca um buquê. De repente, um bilhetinho é jogado quarto adentro, de repente a donzela surge cheia de sibiteza. Que doçura é a janela. E de imensa tristeza também. Quando fechada e a ventania bate e retorna, é como se estivesse chamando alguém. Se aberta, porém na casa abandonada, apenas o sopro do vento com sua canção de saudade. Talvez alguém esteja lá dentro. Ninguém sabe. Sabe apenas da janela e seus mistérios.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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