Rangel Alves da Costa*
As velhas parteiras estão como que esquecidas
pelos rincões interioranos. Hoje em dia, apenas raramente se utilizam os
ofícios das mãos calejadas e experientes das velhas senhoras. Mas noutros
tempos foi bem diferente. Nos dias de antanho, quando não havia hospital,
maternidade ou mesmo posto de saúde nas distâncias matutas de meu deus, quando
as dores de parir começavam a surgir o primeiro pensamento era seguir em
correria atrás da velha parteira. O jumento era chamado ao dever e o aflito
esposo esporava o lombo do bicho em tempo de enlouquecer, pois tinha pressa de
logo chegar e trazer no mesmo passo aquela senhora. Geralmente no meio da
noite, sob a luz do candeeiro, então aquelas mãos mágicas se lançavam aos
mistérios sagrados e através de meios os mais impensáveis. Uma bacia de água,
panos, toalhas, tesoura e a experiência de muitas vidas trazidas ao lume. Sem
saber ler nem escrever, vivendo na pobreza e no abandono, morando em tapera de
cipó e barro, aquela velha senhora ganhava uma importância indescritível nos
momentos mais difíceis. Ou ela prestava os seus cuidadosos préstimos ou tanto a
criança como a mãe podiam correr risco de morte. Mas elas, aquelas velhas
parteiras sertanejas, como se agissem por inspiração sagrada em cada parto, somente
sossegavam quando a criança chorava à luz da vida. E elas, com olhos também
marejados de satisfação, levantavam os pequeninos ante as mães para dizer se
era homem ou mulher. E depois retornavam cortando veredas até que novamente
batessem à sua porta pedindo ajuda. E assim cem, duzentas ou mais vidas
nascidas daquelas mãos humildes. E por isso mesmo madrinhas por gratidão de um
sertão inteiro.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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