SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Palavra Solta: ontem, à beira do rio...


Rangel Alves da Costa*


Ontem visitei o São Francisco, O Velho Chico, o Rio dos Currais, o mais belo dos rios, pois o rio que passa na minha aldeia sertão. Da sede do município sertanejo onde nasci, Nossa Senhora da Conceição de Poço Redondo, são cerca de catorze quilômetros até a beirada do Velho Chico. Em meio a um sertão seco, esturricado de sol, com paisagens catingueiras de causar sofrimento pela sequidão, depois de uma estrada de chão, de repente lá do alto se avista a cor das águas correndo lá embaixo entre descampados e serras, entre vidas ribeirinhas e portos de antigamente. Nem de longe se parece com aquele rio de antigamente, imenso, caudaloso, numa pujança de causar comoção ao olhar. Um rio que era a vida da gente da ribeira, que era a estrada do sertão, que era o destino e chegada de todo os progresso sertanejo. Mas o homem, na sua sede de progresso, nada mais fez que beber quase toda a água do rio. Hoje ele passa bonito, ainda corre pujante, porém muito mais fino, muito mais cansado, já fragilizado demais pelas forças que lhe tomaram. Mas uma fotografia incomparável, uma paisagem indescritível, uma beleza sem igual. Ali, de lado a outro na feiura da seca e da fome, aquele leito passando, seguindo adiante, num impensável percurso: o seco e o molhado apenas num passo. E o coração e o olhar avistando e seguindo as aquelas águas teimosas como um ato de fé.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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