Rangel Alves da Costa*
Ontem visitei o São Francisco, O Velho Chico,
o Rio dos Currais, o mais belo dos rios, pois o rio que passa na minha aldeia
sertão. Da sede do município sertanejo onde nasci, Nossa Senhora da Conceição
de Poço Redondo, são cerca de catorze quilômetros até a beirada do Velho Chico.
Em meio a um sertão seco, esturricado de sol, com paisagens catingueiras de
causar sofrimento pela sequidão, depois de uma estrada de chão, de repente lá
do alto se avista a cor das águas correndo lá embaixo entre descampados e
serras, entre vidas ribeirinhas e portos de antigamente. Nem de longe se parece
com aquele rio de antigamente, imenso, caudaloso, numa pujança de causar
comoção ao olhar. Um rio que era a vida da gente da ribeira, que era a estrada
do sertão, que era o destino e chegada de todo os progresso sertanejo. Mas o
homem, na sua sede de progresso, nada mais fez que beber quase toda a água do
rio. Hoje ele passa bonito, ainda corre pujante, porém muito mais fino, muito
mais cansado, já fragilizado demais pelas forças que lhe tomaram. Mas uma
fotografia incomparável, uma paisagem indescritível, uma beleza sem igual. Ali,
de lado a outro na feiura da seca e da fome, aquele leito passando, seguindo
adiante, num impensável percurso: o seco e o molhado apenas num passo. E o
coração e o olhar avistando e seguindo as aquelas águas teimosas como um ato de
fé.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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