Rangel Alves da Costa*
A prostituta é tão jovem e tão bela. Mas ela
está tão velha e tão feia. A prostituta tem pele macia e cabelos dourados. Mas
ela está com aspereza na pele e com cabelos estragados. A prostituta tem boca
perfeita e lábio carnudo. Mas ela está com a boca tão feia e o lábio disforme.
A prostituta possui dentes tão alvos e hálito tão puro. Mas ela está com os
dentes estragados e cheirando a rum. A prostituta tem olhar angelical e feição
de princesa. Mas ela está com olhar entristecido e rosto sem cor. A prostituta
tem sonhos, tem planos, desejos na vida. Mas ela está acordada em pesadelos,
desesperançada, cheia de aflições. A prostituta possui muita fé e ora e roga
por dias felizes. Mas ela está longe da graça, em silêncio profundo, sem
reconhecer uma santa promessa. A prostituta tem pais, tem irmãos, tem parentes.
Mas ela está tão solitária, incompreendida, evitada em tudo. A prostituta tem
um corpo, um sexo, uma honra. Mas ela se entregou desnuda, fez de seu sexo uma
troca qualquer, e desonrada não possui mais respostas. A prostituta tem namorada,
tem apaixonado, tem poeta que lhe escreve versos de amor. Mas ela está com
qualquer homem, se diz apaixonada por uma moeda, prefere os espinhos às flores
de ontem. A prostituta sorri, canta e é feliz. Mas ela lacrimeja nos instantes
de solidão, chora embaixo dos panos, finge viver e até a felicidade. Guardo
dela um retrato. Tão bela e tão singela. Mas a encontrei tão irreconhecível
naquele lábio lilás. E tão irreconhecível estava que também não me reconheceu.
Chamou-me para o sexo em troca de troco. E eu, que um dia havia lhe prometido o
mundo, apenas baixei a cabeça e me vi chorando.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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