Alves da Costa*
Os espelhos refletem a vida. Os espelhos
refletem o tempo, a idade, as mudanças e as transformações. Nada foge ao
espelho, nem o próprio espelho, que também envelhece e também embaça sua
feição. Dependendo da situação, os espelhos são mágicos, amigos, confidentes ou
terríveis quando realistas demais. Quando se é jovem, quando o espelho serve
apenas para confirmar o sorriso, a simpatia, a bonita, a feição em festa, então
é sempre um prazer nele se mirar. Diante dele se pinta, se embeleza, se
confessa que nunca houve alguém com igual beleza. Silencioso, o espelho apenas
confirma com sua luz. Intimamente, porém, já começa a imaginar as reações tão
diferentes que mais tarde surgirão naquela mesma pessoa, acaso o tempo permita
que assim aconteça. E quando acontece, alguns anos depois, então o espelho já
não é mais visto e sentido como antigamente. Muitos até o evitam, tornam-no em
verdadeiro inimigo. Estes sabem muito bem que o espelho não nega, não mente,
não agrada a ninguém por conveniência. E nele estarão as faces do tempo, as
rugas, os cabelos brancos, as tristezas no olhar, as perdas do viço, os
entristecimentos. Ontem uma bela flor, agora uma folha de outono. Antes um
sorriso, agora uma dolorosa aceitação. Mas não há como fugir disso. Os espelhos
refletem as realidades e as transformações, e as pessoas serão refletidas
segundo os seus retratos refeitos na estrada da vida. Alguns se olham e se
avistam como antigamente, outros se negam a ser como o espelho mostra. E ele
compreende tudo e também sofre pelo destino que possui. Mas não pode mostrar o
irreal perante as forças do tempo. E sofre mais ainda quando aquela feição não
aparece mais. Sabe que tudo acabou. E por isso entristece e vai amarelando,
perdendo o brilho, morrendo também.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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