Rangel Alves da Costa*
Ao longe, um farol antigo, ali pregado desde
os tempos mais antigos. Perto do cais, numa pequena elevação, o farol
orientando embarcações, salvando vidas, acolhendo os que aportam, dando adeus
aos que partem. Testemunha dos tempos, seus olhos talvez já tenham se cansado
de avistar a beleza e a tragédia, o bom e o ruim, a calmaria e o vendaval. E
silenciosamente ouve a dança das águas, os apitos das naves, as palavras que se
alvoroçam no cais. Não mais se espante com o barco fantasma que noites mais
escurecidas se aproxima da areia e dele sempre desce uma mulher sem face. Não
mais se atormenta com a mulher que passeia nas madrugadas pelas areias
solitárias da praia. A mulher, sua lágrima no olhar, sua flor murcha à mão, e
seu caminho ao fundo das incertezas. Não mais sofre com a solidão do cais, com
as dores das pedras do cais, com o canto gemido passando pelas areias do cais.
É também solitário, triste, melancólico e angustiado. Sofre de solidão antiga,
se atormenta de lamentos antigos, padece de tristezas sem fim. Eis que tudo vem
e tudo chega, tudo parte e tudo vai, tudo se faz pulsação e depois arrefece,
tudo é voz e depois silêncio, e ele ali, apenas um farol. Com luzes de grande
alcance antigamente, mas agora quase uma vela de pouco brilho. Um dia de tanto
sol, de tanta lua e tanta luz, e agora somente a leve chama. Assim como uma
lágrima que vai descendo pelo canto do olho. E depois morre na areia, ou nas
areias do cais.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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