Rangel Alves da
Costa*
Para
caminhar, há que se dar o passo por cima do chão. O primeiro passo é início de
tudo e o chão sob os pés o caminho de tudo.
Mas há um
drama terrível neste primeiro ato. Será necessário seguir agora? Será que a
estrada é segura até onde se deseja chegar? Como será o chão mais adiante,
depois da curva?
Muitas
vezes, o passo é dado sem percepção. O pé apenas se estende e pisa sem saber
por que. Os instintos nem sempre são amigos da precaução. E os caminhos desconhecidos.
Mesmo que
o passo seja consciente e o pé saiba aonde quer ir, ainda assim não se pode
confiar apenas no desejo e no encorajamento para seguir adiante. Há que se
duvidar do chão.
Nos
caminhos em linha reta, os olhos avistam até muito longe. Pelo avistado, apenas
uma estrada como outra qualquer, aberta na areia e ladeada por plantas
rasteiras.
O
caminhante logo imagina que basta seguir em frente para alcançar seu destino.
Contudo, a estrada nunca tem o seu percurso na mesma feição daquela avistada abaixo
do pé.
Dependendo
da estrada, o chão nu poderá guardar muitas surpresas. Há pedras miúdas que
vencem os solados, que começam a machucar, que fazem refrear o passo na dor.
Imperceptíveis
aos olhos quando do primeiro passo, mas logo adiante também os espinhos.
Misturados às pedras, os espinhos miúdos surgem como armadilhas aterrorizantes.
Os
espinhos e as pedras miúdas podem ser vencidos, mas nem tudo torna o chão
agradável e seguro de caminhar. Os medos surgem ao acaso, bastando os barulhos
ao redor.
Nas
margens da estrada, o chão recoberto de flores do campo. Dá mesmo vontade de
parar e fazer um buquê para servir de presente quando chegar. Certamente
redobrará o abraço.
Mas as
margens das estradas não são apenas das flores do campo. Flores existem que são
como armadilhas para a aproximação. Nos escondidos das plantas as traições da
estrada.
Cobras
venenosas prontas para dar o bote, urtigas, galhos espinhentos, surpresas
desagradáveis. As flores estão ali, tão belas e coloridas, mas também as dores
e sofrimentos.
Quando se
iniciou a caminhada, o primeiro passo foi acompanhado do segundo, o segundo do
terceiro, e assim por diante. Mas muitos passos já foram dados e agora o
cansaço.
O chão
está limpo, mas nunca é aconselhado sentar no meio da estrada para descansar.
As sombras dos arvoredos estão mais adiante, mas sempre há pressa de chegar. E
segue.
Os passos
ainda estão firmes e por isso mesmo pode seguir caminhando. Mas de repente, de
súbito, pode parar para se perguntar: Para onde mesmo que eu estou seguindo?
Eis o
problema maior. Nem sempre se dá o primeiro passo com objetivos em mente. Nem
sempre se dá o primeiro passo já certo de onde deseja ir e que vale a pena a
caminhada.
Muitos dão
o primeiro passo sem motivo algum. Outros apenas seguem sem qualquer direção.
Ainda outros vão caminhando e mais adiante vão se perdendo entre os atalhos.
Para
estes, para os que fazem do passo um pulo e da estrada um atalho, não só a
caminhada será incerta como o seu chão logo se transformará num leito de
agonias e aflições.
Muito chão
existe que começa a desmoronar no primeiro passo. Quem não sabe aonde ir, não
adianta simplesmente pisar no chão e dizer que sente firmeza. Estará pisando em
falso.
Outras
vezes, a incerteza de onde ir ou mesmo porque achou melhor se desviar do
caminho seguro, de repente o chão debaixo dos pés começa a se abrir. E
afundando vai.
O chão,
numa simbologia maior, significa cuidado, precaução, segurança. Se é no chão
onde se assenta tudo, será na sua firmeza que o ser humano deverá sempre
caminhar.
Mas não é
fácil assentar o pé no chão e menos caminhar. Basta um descuido e já se estará
perante um caminho torto, um labirinto perigoso, um penhasco, um abismo
terrível.
Também não
são os caminhos sombreados e floridos que são garantia de destino certo. Tantas
vezes, é vencendo os desafios do cansaço e dos espinhos que se alcança o
futuro.
Prefira ir
desacompanhado. Com alma e espírito leves se torna mais fácil escolher adiante
o que será boa companhia. E para trás ficarão os fardos pesados demais à
existência.
Ademais,
será sempre importante que a caminhada fique marcada no passo sulcado no chão.
Comprovado estará que por ali passou alguém que seguiu adiante, que foi muito
além.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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