Rangel Alves da Costa*
A chuva é muito mais que a
chuva. A chuva é tudo. A chuva é molhação, é pingo caindo, é renascimento, é
vida. A chuva é enchente, é transbordamento, é lavagem, é alimentação da terra
e da vida. A chuva é alegria, é encanto, é contentamento, é sorriso. Mas a
chuva também é tristeza, é saudade, é lágrima, é sofrimento. A chuva que chega
na noite transforma a escuridão numa poesia sem lua. As vidraças se derramam em
gotas que embaçam os olhos e reencontram o passado. Lá fora, a chuva, caindo,
há um tempo pronto para renascer, mas lá dentro, com a mesma chuva caindo, as
enxurradas vão vencendo as barreiras e desaguam em lágrimas e prantos. Porque a
chuva desperta sentimentos e alarga os córregos, ribeiras e rios da alma.
Porque a chuva vai escorrendo e na sua passagem deixa um tempo de silêncio e
solidão. Porque a chuva acalanta a sequidão e transborda em flor a aridez das
tristezas tantas. Porque a chuva não cai ao desvão, não apenas escorre e segue
adiante. A chuva provoca outra realidade, modifica o ser, faz da sensibilidade
um encontro com os escondidos por dentro. E quando a porta se abre e os passos
vão ao seu encontro, e quando os braços se abrem para recebe-la, e quando o
corpo se entrega em festa, então a liberdade já não pensa em sol. Quer apenas a
chuva para renascer.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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