Rangel Alves da Costa*
O uirapuru cantou triste e o
índio entristeceu mais ainda. A tarde caiu tristonha e o índio entristeceu mais
ainda. As águas do rio passavam tristes e o índio entristeceu mais ainda. A
ventania soprava tristonha e o índio se via numa tristeza em açoites. A tribo
em festa, seu povo contente, boa pescaria e comida farta, a bebida fermentada
passando de boca em boca, o vermelho do urucum adornando os corpos. Mas nada
disso alegrava o índio, pois tomado de uma tristeza sem fim. Avistando o jovem
distanciado de todos, cabisbaixo e com olhar molhado, o velho cacique foi ao seu
encontro: Mas o que há meu bravo guerreiro? Apenas o silêncio como resposta. O
sábio então levantou seu rosto com a mão e encontrou um olhar tomado de
aflição. Seu coração sangra pelo olhar, menino da lua. Foi o que disse o
cacique, que prosseguiu dizendo: Mas não tenho remédio para sua cura. O que
deseja ter impossível ao homem, impossível que alcance no mundo dos vivos. Nem
a magia ancestral conseguirá fazer sorrir este seu coração, pois foi amar logo
o que é impossível de ser amado: a lua. Mas não a lua lá em cima, mas a lua que
desce à lâmina d’água e lança seu olhar de sereia. E condenado está a somente
amar em noites de lua. E por isso todo o sofrimento. Mas peço que se
desencoraje a fazer o que deseja. Não é se lançando às águas que beijará a boca
daquela mulher de luz. É esquecendo o amor pela lua e procurando amar uma jovem
da tribo que sua sina guerreira prosseguirá sobre a terra. Mas o índio triste,
de tão apaixonado que estava, pouco ouviu daquelas palavras. Ainda naquele dia,
assim que a lua cheia desceu, ele seguiu até o rio para beijar sua amada.
Lançou-se às águas e nunca mais retornou. Na margem, escondido entre as
folhagens, o velho cacique apenas se despediu. Sabia que assim aconteceria. Não
a sina de um índio triste, mas o destino do impossível amor.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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