Rangel Alves da Costa*
Ainda que as flores também tenham nascido
para morrer, ainda que sua visão seja de permanência e eternidade, ainda que
toda flor pareça a mesma e mais bela e, por isso mesmo, de perpétua existência,
torna-se difícil aceitar seu definhamento. Pensar em flor é pensar em amor, em
alegria, em beleza. Avistar uma flor é retomar o verdadeiro significado da
existência, é perceber que a vida ainda é tão bela. Assim, a flor se firmou
como simbologia de vida, de desejo, de perfeição. E por isso mesmo causa tanta
tristeza imaginá-la sem verdor, sem viço, sem frescor, sem aroma, definhando,
murchando, morrendo. Seja no jardim, no caqueiro, na fotografia ou no cartão
postal, flores murchas dilaceram a alma. Tornam-se poesias inversas, poemas
revertidos em dor, angústia e sofrimento. O outono, por ser uma estação com
características já esperadas, não causa tanto tormento como em outras
situações. E assim porque sempre se imagina a vivacidade das flores, os lindos
e perfumados buquês ou mesmo as solitárias pétalas como encantamento da tarde.
Mas basta o olhar se deparar com flores murchas e então os sentimentos também
se recurvam em aflições. Pois a flor murcha é morte. Mas não apenas a morte da
flor, mas o perecimento da própria vida. A flor é vida. E a vida também morre
em cada flor.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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