Rangel Alves da Costa*
Já se espalhou como verdade
que é a infância só é bem vivida quando o menino passou por ela com danadice e
traquinagem. Menino tem de ser danado, já dizia o avô entristecido com a retidão
do neto. Não sabia, porém, que era tudo sonsice, tudo um falseamento da
realidade depois da porta da rua. Já a avó dizia que não se importava com a
danadice do neto, pois naquela idade não havia como colocar rédeas em quem
vivia na idade da liberdade e da brincadeira. Os pais ficavam meio seu jeito,
mas não havia o que fazer. Quanto mais davam palmadas e colocavam de castigo
mais as danadices e traquinagens aumentavam. E com mil razões para ser assim. E
com mil lugares para ser assim. Ora, menino nunca se importa com roupa no varal
ou com janela de vidro. Quando quer jogar bola e dar chutão não adianta
gritaria. Menino nasceu para pular cercas, recolher frutas pelos quintais da
vizinhança, para caçar passarinho, para jogar bola de gude, para correr em
cavalo de pau, para se danar pelo mundo sem que o pai ou mãe saiba onde ele
está. Vai apanhar, ser castigado, mas vai repetir, pois está no seu instinto
essa liberdade desmedida. Mas que se diga que uma liberdade própria da meninice
e não na incorrência das ilicitudes, desmazelos e abusos adultos. E assim
porque o menininho deve ser compreendido pela idade, deve ser perdoado em
muitas de suas atitudes, deve ser apenas aconselhado quando se aproxima do não
permitido. Menino é pra sonhar, para brincar, pra se danar, pra demasiadamente
viver. E somente assim mais tarde não se terá um adulto choroso de seu passado
e dizendo que passou a infância sem viver.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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