Rangel Alves da Costa*
Apenas uma porta e uma
janela em meio às paredes da velha casa, porém jamais houve qualquer outra
coisa igual àquela porta e àquela janela. A casa estava abandonada desde muito,
e assim se percebia pela total ausência de pessoas chegando ou saindo, pelo
mato avançando pelos arredores, pela falta de notícias de algum morador. Mas
por que aquela porta e aquela janela ora estavam fechadas e ora abertas. Quem
passasse defronte à velha casa percebia que tudo estava fechado, que ramagens
chegavam a se infiltrar pelas frestas. Contudo, no dia seguinte já se avistava
a janela entreaberta. E acaso se demorasse um pouco mais, logo a percebia se
abrindo mais e recuando pela força da ventania. Assim também com a porta. Fato
também estranho é que nunca estavam totalmente abertas, mas sempre com um vão
escurecida pelas sombras mais adiante. E não raras as afirmações dando conta de
avistamentos de vultos no interior. Há até notícia de alguém que havia avistado
uma moça triste colocando uma flor murcha no umbral da janela e depois recuando
para as entranhas das sombras. Outro até jurava ter ouvido uma voz ecoando uma
canção tão triste que chegava a arrepiar. Um dia, dois amigos cismaram e
forçaram passagem pela porta, que estava fechada. Lá dentro apenas a sujeita do
tempo e a tristeza do abandono. Nada além disso encontraram. Deixaram a
escuridão na escuridão e retomaram a estrada, mas não demorou muito e um deles
olhou para trás e viu a moça triste à janela. Avisado, o outro rapidamente se
voltou, mas avistou a moça já na soleira da porta. Amedrontados, tentaram
apressar o passo. Mas ela já estava em pé antes da primeira curva da estrada.
Rapidamente recuaram para retornar em correria, mas logo se perceberam dentro
da casa. E esta com a porta e a janela fechadas. E a moça...
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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