*Rangel Alves da Costa
Depois de duas cachaças o homem é outro homem.
Até duas já se faz mais alegre, mais animado, mais amigueiro, encorajado e
desembaraçado. Mas depois de duas, o homem já transformado então começa a se
transmudar ainda mais. Alardeia uma riqueza que ninguém sabe onde existente,
ganha tamanha importância social e política que ninguém sequer imagina
possível, fanfarreia tão desmedida valentia que ninguém sabe de onde veio tanto
encorajamento, ostenta tanta vantagem que ninguém mais sequer chega a seus pés.
E fala de modo tão contundente que quem não o conheça passa mesmo a acreditar
estar diante do rei das proezas. Depois que duas cachaças e as outras mais vão
escorrendo pelas beiradas, e dose após dose o tacho vai se enchendo, então o
valentão e o melhor de dono passa a perder as estribeiras, e não é mais nem
mais arrojado nem maioral, mas apenas o embriagado a dizer besteiras, coisas
sem nexo, num palavreado insuportável. E quer abraçar todo mundo, cantar e
aboiar, lamentar e chorar, ser agora aquele de cai e não cai ao pé do balcão.
Até que, tropeçando, vai rumando porta afora sem saber nem onde pisa nem aonde
vai. Mas sempre encontra algum lugar. Ou a porta de casa, sem saber como
chegou, ou mesmo a calçada, sem saber como levantar.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário