NO REINO DO REI MENINO – Final
Rangel Alves da Costa*
Os dois duendes que se fizeram verdadeiros anjos da guarda de Lucius e Lize enquanto estavam prisioneiros, apareceram do nada na fronteira onde ainda estavam mãe e filho, Bernal, os seis meninos cavaleiros, outros amigos e todos os soldados ainda em posição de ataque, montados em seus cavalos e aguardando somente as ordens do menino rei para a retirada e condução do prisioneiro – que ainda pulava amarrado, se esperneava e chorava toda vez que trovejava.
Os duendes lamentaram a morte do ex-soberano, confortando a viúva de que aquele desenlace fatal não poderia ser diferente, pois já estava escrito nas estrelas. Pediram a Lize que se agachasse um pouco, abriram um pequeno alforje encantado bem próximo ao seu rosto e este foi todo iluminado, voltando a sorrir e a ter a beleza de antigamente.
A seguir, os verdinhos orelhudos chamaram mãe e filho e começaram a conversar, dizendo que haviam passado instantes atrás pela Floresta Escura quando viram centenas e centenas de homens e animais mortos, todos transformados num lamaçal de cinzas. E apontando em certa direção, segredaram, para espanto da pequena família, onde estava escondido o tesouro que Otnejon tudo fez para colocar as mãos e jamais conseguiu.
- Mas que bela e agradável surpresa. E esse tesouro já tem destinação certa. Vou mandar agora mesmo alguns daqueles soldados que ainda estão ali, guiados por vocês – Se dirigindo aos duendes -, até o local para fazer o resgate da pequena fortuna. E ela será confiada nas mãos do futuro rei de Edravoc, que será um rapaz muito sério e competente que conheço e já envie até lá duas vezes em missão especial, e ela será totalmente destinada à reconstrução do reino naquilo que for mais urgente. Agora vão, meus dois amiguinhos – Falou um menino rei totalmente encantado com essa preciosa descoberta.
Antes de partirem com uma dúzia de soldados, os verdinhos fizeram questão de aplicar uma lição no baixinho: chegaram próximo a ele e fizeram surgir logo acima de sua cabeça nuvens de tempestade, com relâmpagos e trovões incessantes, como se fosse uma jaula tempestuosa sobre o local onde estava se atormentando o malfeitor.
O comandante das tropas perguntou se já estavam liberados para retornar levando consigo o prisioneiro. Gustavo respondeu que deixassem o baixinho onde estava, pois ele mesmo se responsabilizaria pelo destino que o medroso teria. Mas mandou que transportassem o corpo do seu pai e o colocasse na igreja, sob os cuidados do velho sacerdote. Ordenou ainda que trouxessem rapidamente até onde estavam a velha senhora mãe do baixinho.
O menino rei queria dar um destino exemplar ao baixinho, de modo que pagasse verdadeiramente por todos os seus crimes. Chamou Bernal e perguntou ao amigo sobre a melhor pena que poderia aplicar, e este logo respondeu: "A pior pena possível pra essa cara de sapo é...". "Boa ideia", disse Gustavo, sem deixar o outro terminar a frase. E pediu que convocasse até ali alguns seres das florestas, que seriam incumbidos de aplicar o castigo merecido ao "ex-poderoso de nada", como disse o menino.
Assim que a velha senhora chegou e avistou o ingrato filho pulando amarrado embaixo da tempestade agora só dele, puxou ele de lá, mandou que trouxessem troncos de urtiga e cansanção e deu-lhe uma surra que quase arranca o couro. Feito isso, completamente satisfeita, entregou o choroso nas mãos dos seres das florestas que já tinham chegado. Logo em seguida o baixinho foi levado para o brejão das almas penadas, onde foi transformado num horrendo sapo, cujo destino para a eternidade seria tentar subir numa pedra molhada, escorregar e cair, tentar subir novamente e cair.
Depois do enterro do ex-soberano, a população de Oninem pediu licença ao menino rei para dar uma grande festa em homenagem ao retorno da eterna rainha Lize. Foram três dias de comemorações, com muita comida e bebida. O velho sacerdote, de tão animado que estava, decidiu que, devido ao estado avançado da idade, não mais retomaria suas funções religiosas, se estabelecendo de vez no reino como conselheiro da mãe do menino rei.
Durante as festividades, mas sem que pessoas comuns percebessem, uma imensidão de seres das florestas chegou até Oninem e, numa cerimônia de encantamento e magia, escolheram o menino rei como o único ser humano sobre a terra que receberia proteção eterna dos deuses elementais e das forças positivas superiores que habitam a natureza. O pequeno Gustavo chorou de alegria, e no mesmo instante uma lágrima se transformou num pássaro todo branco, que passaria a acompanhar, lá de cima, todos os passos que ele desse nas vastidões onde andasse.
Passados alguns anos, com o reino tendo alcançado uma inigualável riqueza e prosperidade, e já próximo de chegar a idade adulta, Gustavo chamou sua mãe e afirmou que já tinha dado sua parcela de contribuição àquele reino e ao seu povo, e que precisava agora ir ajudar, como pessoa comum, a outros povos que ainda viviam sendo escravizados, explorados e marginalizados pelos poderosos.
Lize chorou muito, implorou ao filho para rever tal decisão, mas sabia que tinha de ser assim. Forças superiores já a tinham conscientizado que esse seria o destino do menino, agora rapaz. E seria muito feliz nessa escolha, tinha certeza. E prometeu ao filho e a si mesma que continuaria fazendo tudo que pudesse em nome do seu reino, do Reino de Oninem.
E assim, numa bela manhã de primavera Gustavo partiu, tendo como seguidores o fiel amigo Bernal e os seis cavaleiros que se fizeram homens valorosos ali no castelo. Foram viver numa floresta muito distante, chamada de Sherwood, onde se tornaram hábeis no uso do arco e flecha e passaram a guerrear contra os soberanos que subjugavam seus súditos, cobravam abusivos impostos e queriam fazer daquela vastidão de terras propriedades exclusivas.
Começaram a lhe chamar de Robin Hood, mas ele insistia em dizer que o seu nome era Gustavo de Oninem.
FIM
Advogado e poeta
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