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sexta-feira, 9 de abril de 2010

A REVOLTA DAS PLANTAS – IV

A REVOLTA DAS PLANTAS – IV

Rangel Alves da Costa*



Como se sabe, no seu trilhar rotineiro o vento vai espalhando de um campo para o outro sementes, grãos de pólen e outras partículas que podem fecundar; as águas de chuvas, principalmente em épocas de enxurradas, levam elementos das plantas que germinarão em outro lugar; os pássaros fazem o transporte através do bico e outros animais através do pelo, das patas ou pela boca. Até o homem podem fazer o transporte de sementes através da roupa ou do calçado. E quando se vê, sem que ninguém tenha uma ação proposital, plantas estranhas estão nascendo em lugares que nada têm a ver com o seu ecossistema próprio. Quer dizer, começam a surgir onde não foram chamadas nem plantadas. E isto de fato ocorreu, como forma de agravar ainda mais a situação que já estava difícil.
Por diversas dessas situações, verdade é que as plantas exóticas já haviam nascido em outros lugares, nas vizinhanças do ecossistema das plantas nativas e até no meio delas. Não precisou que nenhum pássaro ou animal avisasse sobre tal fato, pois isto foi sendo descoberto ao acaso. E isto foi causando um alvoroço danado entre as nativas. Se a simples existência das espécies exóticas em outro lugar já era motivo de rebuliço, preocupação e preparação para dizimá-las, agora que o problema estava mais visível do que nunca, outro remédio não restava senão acabar com aquela ousadia toda de uma vez por todas. Partir pra guerra seria a única solução.
Sabendo dessa infestação das plantas forasteiras naquela região, aquelas que chegaram primeiro e que agora estavam colocando em prática planos para o enfrentamento das nativas, aproveitaram-se da ocasião para disseminar mais ainda suas espécies bem ao lado da comunidade das plantas sertanejas. Com isto, procuravam aumentar seu exército de lutadoras, mostrar que tinham força e que já estavam às portas do terreno do inimigo e ganhar tempo para que as mais experientes, aquelas que primeiro chegaram, avançassem com todas as armas possíveis para o combate final. Ao menos era esse o plano que estava sendo estrategicamente colocado em prática. Porém as coisas não dariam tão certo como esperavam.
Com efeito, assim que souberam dessa proliferação de espécies inimigas pelas redondezas, as nativas começaram a identificá-las e destruí-las uma a uma. Nesse caçada toda, quase bateram de frente com a força inimiga. Mas ainda não era o tempo certo para entrar naquele território das forasteiras e destruir todas as espécies existentes, foi o que decidiram.
Quando souberam dessa destruição em massa, as forasteiras ficaram totalmente enlouquecidas, com explosões de fúria e demonstrando uma ensandecida sede de vingança. “Não restará nem a raiz para contar história”, “Destruiremos todas, planta por planta, talo por talo”, “A clorofila deles vai jorrar e enlamear esse lugar”, “Morte às malditas, vida longa às nossas espécies”, era o que se ouvia. Essa fúria toda foi só um começo diante de um inesperado fato.
Pois bem. É fácil lembrar que havia uma planta exótica infiltrada na comunidade das nativas, escolhida a dedo pelas suas companheiras e enviada ali pelo seu poder de disfarce e pela coragem que sempre demonstrou ter. Esta, aproveitando-se daquele rebuliço todo ocasionado pela descoberta e destruição das forasteiras nas redondezas, e também pelo fato de que boa parte das guerreiras haviam se deslocado para realizar tal tarefa, tentou espalhar sementes onde estava e foi flagrada praticando tal crime, tido como hediondo perante o ecossistema. Descoberta e presa, após ter que relatar tudo que sabia em relação às suas companheiras, foi sumariamente julgada pelo mandacaru, pelo xiquexique e pela palma. Sua sentença não foi outra: a morte.
Não se sabe como nem por quais meios, verdade é que numa manhã de chuva fraca os restos dessa planta foram encontrados bem no meio da fortaleza das forasteiras, enrolados numa folha grande de bananeira e contendo ainda um bilhete com os seguintes dizeres: “Essa destruímos lá. As outras vamos destruir aqui mesmo”.
Um misto de agitação e revolta tomou conta das forasteiras. A raiva, o ódio e o desejo de vingança mais uma vez se acentuaram entre todas as plantas, da mais nova à mais idosa. Foi convocada uma reunião de emergência do conselho de segurança, totalmente formado por espécies exóticas mercenárias, contratadas em outras regiões exclusivamente para esse fim, com o objetivo de decidir rapidamente as estratégias que seriam utilizadas num ataque imediato contra as nativas e o momento exato que as fileiras de plantas partiriam para dizimar as forças inimigas. O ataque não poderia passar do dia seguinte.


continua...



Advogado e poeta
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
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