SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

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sábado, 3 de abril de 2010

NO REINO DO REI MENINO – LII

NO REINO DO REI MENINO – LII

Rangel Alves da Costa*


"Eu vou lá nas matas falar com aquelas criaturas. Se é assim que deseja farei como se fosse uma ordem, mas antes terá que ouvir o que tenho a dizer com relação a essa invencionice sua, pequeno rei", argumentou Bernal, se aproximando de Gustavo, que logo retrucou:
- Dependendo do que seja posso ouvir ou não, mas fale logo e pegue o rumo da estrada.
- Sabe o que é majestade, produzir artesanalmente outra coroa daquela, como eles fazem com tanta perfeição e esmero, demanda muito trabalho e principalmente matéria-prima, material apropriado e igualzinho ao original. E será que eles ainda tem tantas pedras preciosas, diamantes, rubis e ouro puro para ser trabalhado? Ademais, temos de lembrar que já estamos com uma dívida enorme com eles. É por isso que gostaria que o menino rei me dissesse o que pretende com essa nova cópia da coroa – Falou o feiticeiro, na expectativa de que o menino lhe colocasse a par de todas as suas intenções.
Ao ouvir tais palavras Gustavo ficou pensativo por um instante e depois voltou a sorrir, querendo dar um basta logo naquela conversa.
- Lembrou bem, seu velho feiticeiro. Tocou num assunto que vai ajudar ainda mais a gente e providenciar com maior rapidez a cópia da coroa. É que a coroa deve ser igual apenas na aparência, mas não no material que foi produzida. Assim, pode dizer a eles que podem fazer a coroa de latão amarelado e pedras falsas. Até ficará melhor para o que pretendo fazer. Agora vá seu feiticeiro de lata – Disse o menino, voltando a correr pelo salão.
Não demorou muito e o velho sacerdote chegou às portas do castelo com cinco grandes carregamentos cobertos por lonas. Tinha vindo muito bem escoltado, de modo a evitar que os inimigos colocassem as mãos naquela parte dos equipamentos adquiridos para as forças de defesa de Oninem.
Assim que chegou, reclamando do calor e do cansaço da viagem rodeada de perigos, o homem da igreja, que àquela altura parecia mais um mercador em busca de qualquer lucro, a primeira coisa que pediu ao pequeno rei foi que este mandasse providenciar alimentação para os homens e um bom cálice de vinho para matar sua eterna sede. A seguir, sempre carregando a bebida de um lado para o outro, convidou o ansioso menino para passar a vista pelo que havia trazido.
Os equipamentos de defesa e ataque, alguns com pouco uso e outros completamente novos, encheram os olhos de Gustavo de alegria e orgulho. Mesmo sendo uma parte de uma quantidade maior que planejava adquirir, aquilo que já estava à disposição seria o suficiente para espantar de vez qualquer inimigo que se atrevesse a violar as fronteiras do reino.
Chamou o sacerdote mercador num canto e disse que estava muito satisfeito com a encomenda, mas por enquanto suspendesse a compra do restante. Lembrou ainda que estava precisando dos cavalos já encomendados com urgência, de modo que os seus homens e outros que já estavam fazendo treinamentos para se incorporarem ao seu exército, tivessem à disposição meios de transporte e equipamentos que dessem prazer no duro ofício que teriam de empreender ainda com mais disposição.
No pensamento de Gustavo, já que os seus planos haviam se modificado um pouco, desnecessário seria gastar tanto com suas forças, vez que precisava economizar para aplicar os valores em outros projetos, como fortificar ainda mais o castelo e construir um templo nas distâncias do meio das matas como forma de agradecimento aos seres que povoam as florestas. Seria um templo sem um guardião específico, mas que certamente seria habitado pelas forças da magia e dos encantamentos.
Como um Hércules que vai fazendo seus difíceis trabalhos e conseguindo suas vitórias, o pequeno rei sorria satisfeito com aquele objetivo alcançado. Daí pra frente seria espalhar parte dos homens pelas fronteiras e deixar o maior contingente de guerreiros para a empreitada final, cujas estratégias já estavam todas delineadas em sua jovem mente. Contudo, sabia que as coisas soprariam também pelos ventos do inimigo, o que requeria cuidado redobrado a partir do recebimento de cada notícia sobre as movimentações de tropas além fronteiras. Mas a batalha final não se daria em campo aberto, algo lhe dizia no íntimo.
Após o retorno dos homens que fizeram a escolta, e que logo voltariam trazendo os animais, o velho sacerdote decidiu que ficaria no reino descansando por um breve período. O pequeno rei, mesmo achando tal decisão um tanto quanto arriscada, resolveu não se opor, mas afirmou que enquanto estivesse ali teria que auxiliar nos afazeres do reino, ao invés de fica entornando vinho e mais vinho. E assim Gustavo resolveu que o homem cuidaria da reforma da igreja e procuraria aumentar ainda mais a fé e o louvor a Deus naquela população, pois, como tinha ouvido dizer, um reino sem o manto protetivo dos céus não passa de uma terra jogada à sorte dos infiéis.
Bernal havia voltado das florestas com a promessa dos seus habitantes mágicos de que entregariam a coroa dali a dois dias, mas que o pequeno rei não se atrevesse a pedir mais nada desse tipo sob pena de ter de pagar pela encomenda. Por sua vez, o menino rei pretendo saber o que feiticeiro achava da homenagem que desejava prestar com a construção do templo, assim que começou a falar um vento forte soprou no salão, os móveis e objetos estremeceram e um amuleto de madeira começou a rolar escada abaixo, vindo parar nos pés do feiticeiro.
- É o espelho na água que nos chama, vamos até lá imediatamente!


continua...



Advogado e poeta
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
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