UM CONTO DE FADAS DE AMOR QUASE IMPOSSÍVEL
Rangel Alves da Costa*
Havia ainda outro conto de fadas de amor possível, mas que se tornou impossível porque a bruxa feiosa transformou o belo jovem num cabo de vassoura e saiu montada nele por aí. Mas essa é outra história. E por que não esta, mas outra história? Simplesmente porque aqui se trata de um fato muito curioso, acontecido não se sabe onde nem quando, envolvendo duas pessoas que se amavam, mas que o caprichoso destino sempre tinha o cuidado de dificultar que se reconhecessem no amor que sentiam.
O nome dela era Marina, e era vista como a mocinha mais linda do mundo. Era realmente graciosa e possuidora de todos os encantos que deve ter uma mulher atraente aos olhos de todos. A única coisa feia nela era se achar feia, o que fazia com que estivesse sempre se arrumando e se ajeitando, o que a deixava mais linda ainda.
O nome dele era Iago, e era tido, principalmente pelas mulheres da aldeia e redondezas, como a perfeita encarnação de Eros, o deus mitológico da beleza e do amor. Era pobre e mesmo a vida dura que levava não lhe tirava o encantamento e a beleza jovial. A única coisa feia nele, segundo diziam, era parecer que não vivia nesse mundo, sempre sonhando com a mulher perfeita que o aceitasse como era, pobre.
Numa dessas tardes de outono, enquanto mais reina o imprevisível, o inesperado, o jovem Iago passou pela frente da moradia portentosa da jovem Marina. Esta, numa das janelas do sobrado, se pôs a olhar tamanha beleza naquele rapaz, mirando-o como se seu coração já o conhecesse. Ele, com olhos de timidez, mesmo assim achou impossível não olhar detidamente para aquela flor diferente, tão mulher e feito gota de orvalho que se aprecia com carinho. Seguiu, olhando pra trás, para a flor orvalhada na janela, mas seguiu adiante.
Passou o resto do dia envolto naquela miragem de sonhos. Quem será aquela pétala que só de olhar o meu coração já se satisfaz?, ensimesmava-se o rapaz. Não dormiu direito tendo sonhos após sonhos e todos mostravam que seguia num cavalo veloz, passava na janela e levava consigo a mocinha. E ela também sonhou, e o sonho era com o cavaleiro desconhecido que passava mil vezes por sua janela, tentava colocá-la na garupa do seu cavalo, porém nunca conseguia.
No dia seguinte, ao entardecer, o rapaz procurou fazer o mesmo percurso. Com a vermelhidão dos raios do sol entrecortando as nuvens, ele surgiu lá no início do caminho, lentamente, agora montado no único animal que possuía, que era um belo cavalo alazão, que aos olhos dela, que por acaso já estava na janela, parecia ser o príncipe encantado que vai chegando para salvar o seu amor da bruxa malvada da solidão. Ao se aproximar mais, quando já estava quase em frente à janela, o vento começou a soprar de tal forma que o animal se assustou com os silvos e se pôs numa correria que só foi parar na porta da casa do rapaz.
Na tarde seguinte, do nada um temporal se abateu quando o jovem já estava perto do sobrado. No outro dia, assim que despontou lá no início, viu que uma carruagem saía da casa onde deveria estar sua amada e logo em seguida encontrou a janela fechada. Persistente, retornou no outro dia e para surpresa sua ao passar pela janela viu que a mesma estava aberta e alguém o chamava lá de dentro, com uma voz suave e delicada, e em seguida jogava um bilhete amarrado num pequeno pedaço de madeira.
"Quem é você que tanto quero ver e sempre alguma coisa tenta impedir e até impede? De onde vem com tanta beleza e o que faz nessas terras de povo rude e sem amor? Tua beleza é assim mesmo como vejo ao longe ou meus olhos não ficarão desapontados quando puder te olhar bem próximo ao meu rosto? Escreva-me alguma coisa e diga onde poderemos nos encontrar para desafiar o destino que parece querer nos separar". Esse era o conteúdo do bilhete que o rapaz achou escrito com letra bonita, mas que não entendeu o que dizia, pois não sabia ler.
Ávido para conhecer o que estava escrito, porém envergonhado, mesmo assim logo adiante pediu a um velho que encontrou para ler o bilhete. E o ancião, com um brilho diferente nos olhos, disse ao rapaz: "Aqui está escrito o seguinte: Se afaste da minha vida, pois já sou comprometida e em breve o meu amor chegará num cavalo lindo e veloz para me buscar e assim seremos felizes para sempre".
No mesmo instante o jovem falou com voz firme: "Ainda assim não desistirei da luta pela mulher que ainda não conheço bem, mas já amo como se fosse um amor de sempre. Ninguém, nem o malvado destino vai me impedir de ter aquela bela jovem ao meu lado. Ademais, esse negócio de chegar num cavalo e levar ela pertence ao meu sonho e não a outra pessoa".
E o velho, que era o próprio destino encarnado, viu que não tinha saída e disse: "Vai meu amigo. Se amas tua sina é o amor, por isso vá cumprir o seu destino e amar quem vosso coração tanto quer".
E foram felizes para sempre... Até chegar a serpente, mas essa é uma história diferente. Será?
Advogado e poeta
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
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