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sexta-feira, 2 de abril de 2010

NO REINO DO REI MENINO – XLVIII

NO REINO DO REI MENINO – XLVIII

Rangel Alves da Costa*


A bem dizer, ninguém neste mundo é capaz de ao menos imaginar o que se passa na cabeça de uma pessoa totalmente instável, com acessos de lucidez e de loucura ao mesmo tempo e com um temperamento indecifrável e indefinível como o de Otnejon. Nessas circunstâncias, quando o fofoqueiro terminou de falar, o próprio espião da vida alheia tomou um susto que se arrependeu do dia em que nasceu.
O baixinho pulou no seu colo dizendo que ele era porque era sua mãe, abraçando, beijando, e o pior, queria porque queria ser amamentado. O fofoqueiro deu um terrível salto assustado, fazendo com que o enlouquecido baixinho rolasse pelo aposento, batendo com suas mãos pelo chão e dizendo sem parar que queria mamãe.
Quando os guardas acorreram ao local encontraram o fofoqueiro todo assustado correndo em ziguezague e sendo perseguido de perto pelo baixinho que continuava dizendo que queria mamãe. Assim que avistou os homens, Otnejon sentou no chão e começou a chorar, insistindo que o rapaz era sua mãe e que não deixassem fugir. Foi quando um dos guardas se aproximou cuidadosamente e lhe disse baixinho:
- Grande soberano, aquele ali não é sua mamãe não, pois sua mãe mora no beco do cafundó e vossa alteza bem sabe disso, já que mandou que a gente tirasse ela daqui e enfurnasse ela lá naquela casinha. Agora lembra meu rei?
- Então vamos lá vê minha querida mãezinha – E levantou alegre, pulando e arrastando o guarda pela mão, forçando a dançar com ele.
- Calma meu rei, espere um pouco, pois acho melhor que a gente vá lá no beco do cafundó agora mesmo, assim poderá encontrar sua mamãezinha, tá certo? – Tentando se desvencilhar, essa foi a melhor saída encontrada pelo rapaz. Só que agora teria que realmente ir com o rei até a casa de sua genitora, até mesmo porque o baixinho já tinha lhe dado a mão para partirem.
Mesmo naquele estado de pleno transtorno mental, os guardas não poderiam negar o desejo do rei, vez que nunca se sabia quais as conseqüências pelo seu descumprimento. Colocaram o baixinho numa espécie de liteira e saíram escondido pelos fundos do castelo. No percurso de sobe e desce ele acabou dormindo de roncar. Contudo, assim que chegaram frente à casinha e iam colocando o transporte no chão, o dorminhoco despertou já pulando para fora, para o chão:
- Mas o que é isso mesmo, onde estou, por que me seqüestraram? Socorro, socorro! – E prosseguiu, agora em tom ameaçador – O que vocês pensam que estão fazendo seus palermas, por que estamos aqui nesse lugar miserável? Quero uma boa explicação antes que eu coma cru o fígado de todos vocês.
E um dos homens explicou que estavam diante da casa de sua mãe e que só estavam ali porque o mesmo pediu insistentemente que lhe trouxesse até aquele local, talvez porque estavisse com saudade dela ou simplesmente ver como estava passando. Então Otnejon baixou a cabeça e ficou pensativo por um instante, com ar de tristeza, e depois falou:
- Agora estou lembrando que tenho uma mãe e errei muito em ter expulsado ela do castelo, onde deveria estar até agora. Mas vou visitá-la agora mesmo e pedir que me perdoe e volte comigo para onde nunca deveria ter saído – Falou de um modo que ninguém em sã consciência jamais acreditaria.
- Chegou tarde, majestade, pois ela foi levada por três homens nessa madrugada – Era o fofoqueiro que já estava ali espionando, falando alto por trás de uma parede, com medo que o baixinho lhe reconhecesse e fosse em sua direção.
- Mas quem disse isso, foi algum de vocês? Se foi trate agora mesmo de explicar melhor essa história de que homens levaram minha mãe daqui sem o meu consentimento – O baixinho falou com uma seriedade que parecia demonstrar real preocupação.
O fofoqueiro foi chamado, mas pedindo por todas as forças divinas que não o deixasse sozinho frente a ele, explicou novamente tudo, logicamente que acrescentando alguns pequenos fatos novos. Chegou a dizer que não tinha muita certeza não, mas parecia que os homens eram extremamente violentos e estavam bem armados, com espadas, arco e flechas e muito mais. E disse ainda que seguiram puxando a senhora em direção às montanhas, como se pretendessem sair das terras do reino pelo oeste.
- Mas ora ora, se é verdade o que diz, seguindo na direção oeste vai certinho em direção ao Reino de Oninem. Mas não pode ser, porque se isso for verdade e se esses homens fizeram esse trabalho mandados pelo moleque que é o rei de lá, isso basta para ser uma declaração de guerra. Quer dizer, mais uma declaração de morte para aqueles covardes e imbecis – E dando um passo em direção ao fofoqueiro, fez uma proposta – Em troca de algumas moedas de ouro você teria coragem de seguir o rastro deles até onde estejam agora? Se tiver parta imediatamente, mas se não tiver diga que mando tirar o seu couro agora mesmo.
Isso foi o que ganhou o senhor da vida alheia por se meter onde não devia, sabendo que não tinha outro jeito senão fazer o que baixinho tinha ordenado. Não demorou muito e já estava correndo riscos pelos perigosos caminhos que levavam a Oninem.
Enquanto isso o baixinho deitava saudoso de verdade na cama de três ripas de sua mãe, dentro da miserável tapera. Dormiu e sonhou que ela estava muito feliz em um grande reino e que o rei a tratava como se fosse um bom filho.


continua...


Advogado e poeta
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
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