Rangel Alves da
Costa*
Em
diversos escritos, a filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844 - 1900), aborda
questões relacionadas à vontade como elemento propulsor da conduta humana. É o
desejo de conquista, de realização e de afirmação que leva o homem a
interpretar o mundo segundo a sua vontade. Ou seja, o mundo passa a ser aquele
objetivado segundo um desejo a ser realizado.
Nos passos
do filósofo Aristipo (435 - 366 a. C.), que afirmava ser o mundo uma realidade
em busca do prazer, Nietzsche chega a afirmar que a própria vontade é impotente
perante o que se é desejado. Significa dizer que o homem é refém do que deseja
encontrar, e daí passar a amar e a querer muito mais o fato de desejar ao
próprio objeto de desejo. É como se afirmasse que ter exaure a vontade, por
isso ser a busca muito mais interessante.
Ora, na
concepção de Nietzsche, os desejos e as vontades reprimidas acabam se
interiorizando no próprio sujeito, gerando sentimento de culpa e sensação de
impotência. Será preciso, pois, libertar-se. E tal liberdade implica em superar
os desejos, significando tal superação na constante busca do prazer, do amor,
da realização, de tudo aquilo que norteia a vontade do ser. E não será a
sociedade com seus regramentos que possa impedir o homem de desejar e realizar.
Estaria indo de encontro a si mesmo o homem que delimitasse seus desejos, por
exemplo, ao que é ou não permitido pela religião.
Crítico do
moralismo exacerbado, Nietzsche pregou a liberdade, os impulsos e a busca de
realização das vontades. Concebe o homem como um ser com tamanha potência que
não lhe seria possível se manter prisioneiro de regras de conduta, de
moralismos e de ditames religiosos. Prega, assim, a liberdade. E liberdade de
sentir, de fazer, de desejar. O seu Zaratustra bem ensina como se deve
perseguir os caminhos da liberdade.
Para
Nietzsche, é destino do homem buscar, através de seus instintos, a plena
realização. E não há mal que tal percurso traga tristeza, dor e sofrimento.
Vencer as barreiras é prova maior que o homem luta para satisfazer-se
individualmente. O homem, em si, é um guerreiro, afirma o filósofo. E vai fazer
sua guerra para alcançar aquilo que tanto deseja. E sua vontade é tamanha que o
próprio mundo vai sendo moldado segundo tal perspectiva de realização.
Em
Nietzsche avista-se a idealização do homem-percurso, do homem-fazer, do
homem-busca. Deplora a noção do ser como algo que deve ser limitado. Na
verdade, há uma negativa de tudo que seja predeterminado e a concepção do homem
e seu organismo como possuidores de forças que nunca se contentam com
acomodações. Procuram expandir-se, querer cada vez mais, e nisto a força da
vontade de poder. Assim por que a vida é força, é vigor, é uma criação de
valores e um transbordamento de energia. E sendo essencialmente vontade de
poder, sempre está em busca de experiências novas para realizar-se.
Em
Nietzsche, é a vontade de poder que transborda em desejos. Em tal perspectiva
também a quebra da visão pessimista que geralmente se tem sobre sua obra, ao
menos em alguns escritos. Mas há de se compreender sua visão negativa do homem,
principalmente quando este não exerce sua liberdade de querer, de desejar, de
ir atrás de seus objetivos. Um homem refreado na própria conduta jamais poderá
ser um homem realizado, pois entrecortado por ele mesmo nos seus instintos e
pulsações maiores.
Nem sempre
se tem um Nietzsche que leva a condição humana a um pessimismo exacerbado nem
conduz à desesperança todo o fazer humano. Há, na verdade, um reconhecimento
explícito do valor que possui o sujeito. E tal valor será fruto daquilo que
desejar, pois em cada indivíduo está a responsabilidade pela sua própria
transformação. Assim porque o homem como senhor de si, um ser responsável pelo
seu progresso na vida, e tudo a partir de uma vontade que é inata. E tal
vontade, quando expressada, possibilita realizações inimagináveis. A vontade se
traduz como desejo e possibilidade, e poder como efetiva realização. Daí ter o
homem o dom da superação, da vitória, do alcance de objetivos, dependendo
somente que deseje conquistar.
De
fundamental importância a concepção de ser o homem um ser múltiplo
organicamente e com forças tais que se digladiam em busca de demonstração de
maior capacidade. Significa que tudo no homem busca seu lugar de realização, de
ação e de conquista, bastando que seja impulsionado pela própria vontade. A
vontade unida ao poder transforma o ser humano naquilo que o mesmo desejar ser.
Nas
próprias palavras do filósofo: “O grande do homem é ele ser uma ponte, e não
uma meta; o que se pode amar no homem é ele ser uma passagem e um acabamento.
Eu só amo aqueles que sabem viver como que se extinguindo, porque são esses os
que atravessam de um para outro lado. Amo os grandes desdenhosos, porque são os
grandes adoradores, as setas do desejo ansiosas pela outra margem” (Assim falou
Zaratustra).
Assim, em
Nietzsche o homem é a ponte e alcance de sua outra margem. Assim deve ser
porque ele é capaz. Mas não buscará a outra margem sem a carência sentida, pois
“Eu vo-lo digo: é preciso ter um caos dentro de si para dar à luz uma estrela
cintilante”.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
2 comentários:
Bom dia Rangel! Encontrei seu blog e fiquei feliz por ver um escritor que já editou tantos livros. Acabei de lançar o meu primeiro livro e estou sentindo todas as alegrias e todas as dificuldades para divulga-lo. Parabéns. Vou te acompanhar , agora, mais de perto. um abraço
Interesante tu blog, volveré a visitarte de nuevo y te dejo mis saludos y felicitación
Carmen
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