*Rangel Alves da
Costa
Ontem, 12,
dia dedicado aos namorados, ao invés de compartilhar a data com alguém, eu
simplesmente coloquei flores entre velas acesas e, entristecido, velei toda a
minha solidão.
A ninguém
pude dar flores, presentear, dividir a data tão significativa para muitos. O
dia dos namorados é para ser vivido a dois, e um solitário é apenas um, na sua
própria solidão.
Como bem
lembra a música, já tive mulheres de todas as cores, de todas as idades, de
muitos amores. Mas tudo num tempo passado. E já faz um bom tempo que não
encontro ninguém para chamar meu amor.
Mas
namorar é bom, construir o amor ainda melhor. Sempre prazeroso o convívio, a
carícia, o carinho, o beijo, o abraço. Sempre uma dádiva a palavra a dois, o
olhar a dois, a tentativa de aproximar e unir as distâncias ainda presentes nos
dois.
Não há
sensação mais prazerosa que o compartilhamento do namoro fiel e verdadeiro.
Desde a saudade ao encontro, tudo se revela bom. E tão bom encontrar, beijar,
se jogar pelo chão, pela relva ao entardecer, fazer fluir poemas e doces
palavras.
Amor de
namoro é, verdadeiramente, o mais gostoso quer possa existir. Namorar encanta,
anestesia, entontece, entorpece, deixa a pessoa mais fora de si e mais dentro
da outra. Ah, como é bom amar, como é bom namorar...
Namorar
torna a pessoa mais criança, mais delirante, mais sonhadora. E sempre quer
encontrar qualquer coisa que faça o outro feliz. Daí um presentinho singelo que
surte mais efeito que a joia mais preciosa que possa existir.
Um namoro
como nos tempos dos parques, das retretas, dos bancos das praças, da maçã do
amor, da pipoca colorida, do algodão doce para ser lambuzado a dois. E andar e
correr de mãos dadas e, cansados, rolar pelo chão macio em busca do outro.
Conheço o
namoro assim porque já namorei. Conheço o amor assim porque já amei. Nunca
namorei para uso do corpo, nunca convivi em troca de sexo. Aliás, o namoro deve
ser tão construtivo e harmonioso que nem se pensa em avançar antes que se
deleite com as qualidades da pessoa em si.
Namorar é
escrever poemas de amor sem jamais ter sido poeta. Namorar é navegar em terra
firme e voar enquanto caminha em busca do outro. É sonhar acordado, pedir ao
tempo que passe mais rápido, olhar em direção à janela para ver se logo
encontra o outro olhar.
Namorar é
falar baixinho, sussurrar, quase soprar palavras singelas. Namorar é acariciar
com tamanha leveza que a pluma da pele se eriça ao invés de se assanhar.
Namorar é encostar o lábio no outro e sentir o beijo antes mesmo que haja o
toque. É o prazer maior em dividir tardes chuvosas, noites frias, instantes que
aproximam.
Não sei
mais se sempre fiz assim quando namorei. Mas relembro muito bem o que não fiz
quando namorei. Jamais deixei de ser verdadeiro, carinhoso, meigo, romântico,
afetuoso. Talvez por isso mesmo que fui sendo desamado até chegar à solidão.
E ontem,
como não tinha ninguém para chamar de amor, para dividir o dia como namorada,
nada pude fazer que fizesse sorrir o meu e o outro coração. Apenas coloquei
flores entre velas acesas e, entristecido, velei minha solidão.
Apenas
coloquei flores entre velas acesas e, entristecido, velei minha solidão... E
ainda hoje as velas continuam acesas, ao redor de flores murchas, velando minha
imorredoura solidão.
Não sei,
não sei até quando as velas continuarão flamejando. Já não tenho flores, já não
tenho nada, não tenho ninguém nem a mim. Apenas a solidão. Gostaria de
novamente amar, namorar, ser feliz. Mas essa chama não apaga e tenho que velar
minha solidão.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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