SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



segunda-feira, 13 de junho de 2016

COLOQUEI FLORES ENTRE VELAS ACESAS E VELEI MINHA SOLIDÃO


*Rangel Alves da Costa


Ontem, 12, dia dedicado aos namorados, ao invés de compartilhar a data com alguém, eu simplesmente coloquei flores entre velas acesas e, entristecido, velei toda a minha solidão.
A ninguém pude dar flores, presentear, dividir a data tão significativa para muitos. O dia dos namorados é para ser vivido a dois, e um solitário é apenas um, na sua própria solidão.
Como bem lembra a música, já tive mulheres de todas as cores, de todas as idades, de muitos amores. Mas tudo num tempo passado. E já faz um bom tempo que não encontro ninguém para chamar meu amor.
Mas namorar é bom, construir o amor ainda melhor. Sempre prazeroso o convívio, a carícia, o carinho, o beijo, o abraço. Sempre uma dádiva a palavra a dois, o olhar a dois, a tentativa de aproximar e unir as distâncias ainda presentes nos dois.
Não há sensação mais prazerosa que o compartilhamento do namoro fiel e verdadeiro. Desde a saudade ao encontro, tudo se revela bom. E tão bom encontrar, beijar, se jogar pelo chão, pela relva ao entardecer, fazer fluir poemas e doces palavras.
Amor de namoro é, verdadeiramente, o mais gostoso quer possa existir. Namorar encanta, anestesia, entontece, entorpece, deixa a pessoa mais fora de si e mais dentro da outra. Ah, como é bom amar, como é bom namorar...
Namorar torna a pessoa mais criança, mais delirante, mais sonhadora. E sempre quer encontrar qualquer coisa que faça o outro feliz. Daí um presentinho singelo que surte mais efeito que a joia mais preciosa que possa existir.
Um namoro como nos tempos dos parques, das retretas, dos bancos das praças, da maçã do amor, da pipoca colorida, do algodão doce para ser lambuzado a dois. E andar e correr de mãos dadas e, cansados, rolar pelo chão macio em busca do outro.
Conheço o namoro assim porque já namorei. Conheço o amor assim porque já amei. Nunca namorei para uso do corpo, nunca convivi em troca de sexo. Aliás, o namoro deve ser tão construtivo e harmonioso que nem se pensa em avançar antes que se deleite com as qualidades da pessoa em si.
Namorar é escrever poemas de amor sem jamais ter sido poeta. Namorar é navegar em terra firme e voar enquanto caminha em busca do outro. É sonhar acordado, pedir ao tempo que passe mais rápido, olhar em direção à janela para ver se logo encontra o outro olhar.
Namorar é falar baixinho, sussurrar, quase soprar palavras singelas. Namorar é acariciar com tamanha leveza que a pluma da pele se eriça ao invés de se assanhar. Namorar é encostar o lábio no outro e sentir o beijo antes mesmo que haja o toque. É o prazer maior em dividir tardes chuvosas, noites frias, instantes que aproximam.
Não sei mais se sempre fiz assim quando namorei. Mas relembro muito bem o que não fiz quando namorei. Jamais deixei de ser verdadeiro, carinhoso, meigo, romântico, afetuoso. Talvez por isso mesmo que fui sendo desamado até chegar à solidão.
E ontem, como não tinha ninguém para chamar de amor, para dividir o dia como namorada, nada pude fazer que fizesse sorrir o meu e o outro coração. Apenas coloquei flores entre velas acesas e, entristecido, velei minha solidão.
Apenas coloquei flores entre velas acesas e, entristecido, velei minha solidão... E ainda hoje as velas continuam acesas, ao redor de flores murchas, velando minha imorredoura solidão.
Não sei, não sei até quando as velas continuarão flamejando. Já não tenho flores, já não tenho nada, não tenho ninguém nem a mim. Apenas a solidão. Gostaria de novamente amar, namorar, ser feliz. Mas essa chama não apaga e tenho que velar minha solidão.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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