*Rangel Alves da Costa
Lobisomem
é um bicho homem, já se espalhava essa história desde os tempos de antanho. Mas
homem amaldiçoado, pecador por demais nas andanças terrenas, trazendo no
destino a sina dos uivos e arremedos nas noites feias e escuras. Já outros,
coitados, padecentes por aquilo que não deu motivo, pois homens-bichos pelos
mistérios familiares e das crenças que acabam desfavorecendo a vida. Entonce, a
pessoa se torna lobisomem, em triste rito de transformação na noite de lua
cheia no período quaresmal, ou já nasce predestinado à horrenda sina da monstruosa
transformação. O primeiro, por ser gente ruim da peste, um “fi do cabrunco” que
bate na mãe e dá rasteira em aleijado, rouba esmola de igreja ou age com
desfaçatez ante a fé de um povo. O segundo, porque nascido em família de sete
filhos e não é batizado pelo do meio. Ou seu irmão ou irmã se torna seu
padrinho ou madrinha ou não terá jeito mesmo, pois em bicho haverá de se tornar
nas noites negras e aterradoras. De qualquer modo, quando chega o tempo da
semana santa os bichos aparecem depois que o negrume se fecha e mais medonhos
se tornam perto da meia-noite e daí em diante. Quando a lua se esconde, o
predestinado corre em busca de cama de capim e ali rola, se atormenta todo, até
o bicho aparecer em seu corpo. Quando levanta e começa a correr em direção às
estradas, curvas de caminhos e aos quintais, já será apenas o lobisomem.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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