*Rangel Alves da Costa
Anjos,
seres celestiais e mensageiros de Deus, existem sim. E anjo da guarda também.
Este destinado especificamente a acompanhar o ser humano na sua trajetória
terrena, servir de guarda e de guia, ser a luz nos passos da estrada,
interceder pelo bem de sua guardiado. Não só protege e serve de escudo contra o
mal, como se torna interlocutor das necessidades entre o homem e a divindade.
Contudo, o
anjo da guarda necessita ser aceito, reconhecido, respeitado e confiado. Sem a
fé, sem a certeza da existência de uma força superior que a tudo comanda,
impossível que o anjo desça como escudo de proteção. Necessita, pois, ser
aceito com a mesma fé que o homem acredita no poder de Deus. Então,
silenciosamente ele desce, envolve o guardiado com sua luz e se torna presente
em todo instante e perante toda ação.
Entretanto,
como ao homem foi dado o poder de discernimento e de ação, tendo em suas mães,
mente e passos, a própria condução do seu destino, o anjo da guarda acaba se
transformando numa espécie de inspiração para o bem. Utiliza seu poder de
intercessão para refletir na pessoa a propensão às boas ações na vida. E quanto
mais a força do anjo produz resultados, mais o ser estará protegido contra o
mal e a perseguição.
Assim,
todo ser humano que aceita Deus e sua verdade, todo indivíduo que vela e
respeita os grandes ensinamentos, torna-se agraciado pela presença de um anjo
em sua vida. E este se torna tão amigo que chora a mesma dor, padece o mesmo
sofrimento, se atormenta com a mesma angústia. E assim porque o anjo sabe que
não pode afastar do seu guardiado aquilo que lhe foi escrito como destino,
também que não pode impedir as angústias necessárias ao posterior
fortalecimento do corpo, do espírito e da mente. E eu também, numa tarde de
amargas reflexões, acabei encontrando e sentindo a força e o poder do meu anjo
de guarda.
Sentado
num banco de praça ao entardecer, um tanto tristonho, um tanto angustiado, eu
procurava respostas no silêncio e na paisagem, quando ouvi uma voz logo atrás,
bem próximo ao meu ombro. Seria caso de espanto, até de aborrecimento com
aquela aparição inusitada, mas a voz era tão suave e meiga que ecoou leve e
prazerosa. Então ouvi da voz:
“Eu sou o
teu anjo. Não sou um anjo qualquer, sou o anjo que te guarda. Estou aqui e
estou aí, bem diante de você. Estou aqui e estou ao teu lado. Estou aqui e
estou por cima, por baixo e dentro de você. Acredite, pois sou o teu anjo, e o
anjo que te guarda. Aviste-me agora. Sou aquela folha e aquela flor, sou aquela
pedra e aquele pássaro. Sinta-me agora. Sou presença mesmo na tua tristeza e na
tua dor, no teu sofrimento e na tua aflição, pois sou teu anjo, o anjo que te
guarda. E não te guardei contra todas essas coisas, contra a angústia e
melancolia, pois a mim também coube colocar esta pedra de sal na tua mão, na
tua boca, no teu pensamento. Tudo tão necessário quanto a reconquista da
felicidade. Fiz assim porque te guardo, e só coloquei a pedra de sal na tua
mão, na tua boca e no teu pensamento, porque no seu dissabor há uma lição: não
conhecerás do mel enquanto não conhecer da ameaça da abelha, não conhecerá o
perfume da flor enquanto não experimentar a dor do espinho. É preciso sofrer
para reencontrar a beleza da vida, é preciso perder para aprender a buscar, é preciso
caminhar pela escuridão para chegar ao amanhecer”.
Prosseguiu:
“Sim, sou teu anjo, o anjo que te guarda. Sei do espanto ao me ouvir assim
afirmar, principalmente quando pareço aceitar e até achar bom assim esteja,
assim tão tristonho e angustiado. Saiba, contudo, que esta página de agora,
tormentosa e sacrificante, foi escrita para que leia no sofrimento. Uma página
escrita na pedra de sal. Mas a página logo se findará no vento, logo passará
como tudo passa, e a escrita seguinte será de poesia ao coração. Quando tua
lágrima invisível cessar, também o outro ser renascerá. Porque assim a vida:
uma pedra de sal que chega ao homem para ser transformada em mel, em paz, em
alegria, em felicidade. Então comece já a escrever a próxima página”.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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