*Rangel Alves da Costa
Não sei se
todos comungam de tal assertiva: a noite transmuda e anestesia o ser. E talvez
assim o faça para que a pessoa não conheça as profundezas de seus labirintos e
seus segredos. Ademais, torna o sujeito refém de situações jamais imaginadas em
outros instantes do dia. A verdade é que quando a noite chega a pessoa emerge
em outra margem: despe-se de moralismos, embriaga-se sem uma dose a mais,
entrega-se sem desejar ser totalmente do outro. Tomada de entorpecimento, já
não nega tudo com firmeza, arrisca-se além da conta, encoraja-se além da
medida. Só há uma explicação para que assim aconteça, para que a noite revele
além da fotografia. A lua possui forças inimagináveis, a escuridão desperta
consciências que jazem esquecidas durante o dia, os sentimentos desprendem o
casulo e a sensibilidade se mostra em tudo. Além disso, o próprio clima noturno
aflora no ser a nostalgia, o erotismo, a sentimental poesia. E tudo chega a ser
tão voraz que só na manhã seguinte a pessoa encontra a si mesma. E apenas em
parte, pois muito de si ficou na noite passada, nas suas ocultas e misteriosas
entranhas.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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