*Rangel Alves da Costa
Os
retratos são alentos ao que não volta mais. Os espelhos são desalentos ao que
não pode ser diferente. As idades comprovam os outonos dos retratos e as flores
que ainda restam no presente. Não seria diferente. Nas paredes, por cima dos
móveis, na cabeceira da cama, aquele sorriso antigo, ainda que amarelado,
aquele aspecto jovial e cheio de encantamento. Os retratos servem, assim, como
relembranças do que fomos um dia. A roupa diferente, o cabelo diferente, mas
principalmente a idade diferente. E vão se modificando com o passar dos anos,
mudando o olhar, o sorriso, a feição. Nada disso pode acontecer com os
espelhos. Mesmo que a pessoa não se sinta com determinado aspecto, não há como
fugir daquela realidade. Sim, o rosto cheio de marcas, o olhar sem o brilho de
outros tempos, os cabelos mudando de cor, se tornando esbranquiçados, a pessoa
em si mesma e na sua nudez de momento. Mas por que assim acontece, quando a
pessoa sente contentamento diante do passado fotografado e se vê desalentada
ante a realidade do espelho, perante a sua vida presente? A idade, apenas o
tempo. E tudo se resume naquela fotografia que não existe mais e no espelho que
atormenta por existir com feição tão diferente. Não se pode fugir. A não ser
que o espelho seja guardado em baú e o retrato envelheça na parede.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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