*Rangel Alves da Costa
Coisa mais
estranha. Em plena cidade, no coração da capital, e um lobo uivando no meio da
noite. E não um uivo simples, costumeiro nos lobos vagantes das estepes e
montes, mas um uivo alto, forte, lamentoso, tomado de dor e angústia,
verdadeiro chorar em brados alucinantes. Quase todas as noites eu ouvia tal som
estarrecedor, logo depois das oito e avançando pelas madrugadas. Certifiquei-me
de onde vinha, procurei saber se naquela casa havia algum lobo aprisionado, mas
como resposta eu obtive apenas que ali morava um rapaz solitário e que sempre
retornava após o anoitecer. Então não mais duvidei do que se tratava. O lobo
era o rapaz, o uivo era do rapaz, a dor e a aflição eram no rapaz, mas não que
ele se transformasse no bicho em si. Apenas a sua solidão o desumanizava, tornando-o
uma fera em busca de qualquer resposta. Ainda hoje ouço o seu grito, o seu
uivo. E mais outros e tantos outros por muitos quartos escurecidos, por todo
lugar. E nem sei se subo ao monte ao anoitecer para também uivar toda dolorosa
dor da solidão.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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