Rangel Alves da Costa*
É belo o entardecer. Suas cores poéticas,
instigantes, afogueadas, balançam ao sabor da ventania. Os coqueirais se
embalam, dançam valsas de alegria e apressamento, se desfraldam como cortinas
de um quarto alegre de uma moça bela. Pelos arredores e mais adiante, nas
areias molhadas que se alongam por toda a margem, as conchas e os restos
trazidos pelas ondas grandes. Passa a última revoada, um barco é avistado nas
distâncias, o mar murmureja, se sacode, fala palavras desconhecidas. As pedras
molhadas, lavadas, tingidas de sal e de sol, num negrume que espelha escuridão,
silenciosamente observam tudo o que acontece ao redor. Os pescadores já se
recolheram e levaram consigo seus cardumes de sonhos. Os caminhantes das vagas
da noite ainda não chegaram para os seus passos incertos sobre as areias
tristes. São pessoas que vão surgindo ora com flor à mão, ora carregando um
conhaque, ou simplesmente com lenço à mão, que não demora para ficar
encharcado. A tarde se vai, queima sua última brasa. A noite vai chegando
solene e silenciosa. A luz do farol já não acende mais. A rainha das águas não
deita mais sobre as pedras do cais. E este, na tristeza que todo cais possui
depois do entardecer, apenas chora. Uma dor indecifrável, mas existente. Ou
dores indecifráveis, mas subsistentes. Dores de amores desamados, dores de
saudade, dores que surgem assim ao anoitecer, dores de tudo o que jaz sobre o
cais.
Escritor
Blograngel-sertao.blogspot.com
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