Rangel Alves da Costa*
Logicamente que não há sol frio. Ao menos no
sertão nordestino. Além de não ser frio, é verdadeiramente abrasador. Por isso
mesmo que o linguajar popular, assim que os raios descem com mais queimor, logo
dizem: eita sol quente da gota serena, eita sol quente de lascar, eita sol
quente da molesta. É realmente uma situação afogueada, uma desolação de fazer
esturricar o juízo, pois o sol sertanejo é quente demais. Pouco mais das sete
da manhã e ninguém mais suporta caminhar debaixo do fogo. A terra lateja, a
planta perde viço e cor, folhagem vira cinzas, tronco de pau vira toco. De vez
em quando uma coivara se faz sem precisar que ninguém acende o fogo, bastando
que a secura dos garranchos chegue ao ponto de combustão. Com gente, então de
incinerar mesmo. Basta sair de casa que o suor começa a escorrer, basta andar
um pouco mais que tudo começa a avermelhar, e um pouco mais adiante já estará
quase em brasa viva. Quem tem chapéu de couro ou de palha ainda suporta um
tiquinho, quem encontra sombreado ainda garante um descanso, mas quando nada
disso é possível, então só resta implorar para não incendiar enquanto caminha.
Agora, se imagine o que acontece com a vaca, o bezerro, o boi, o cavalo, o jegue,
com todo tipo de bicho, sem ter um pé de pau que faça sombra. E tenha que
passar os seus dias sobre a terra abrasada e debaixo de uma fogueira. É mesmo
de doer coração.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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