*Rangel Alves da Costa
Tardes,
noites, sombras, luas, sóis, silêncios, instantes da vida. E a qualquer
instante o olhar pela janela mirando o mundo adiante. Da janela se avista tudo,
quem chega, quem vai, quem vem, quem sequer parece que vai pela estrada.
Avista-se o leiteiro, a verdureira, a fateira, a lavadora de roupas, o doido de
pedra à mão, o carteiro entristecido. O menino que vai correndo atrás da bola e
a mocinha vendendo arroz doce. O jornaleiro passava anunciando que a vida
existe, folhas ao vento seguem seus destinos, tudo aos olhos da janela. Nela,
um recanto de paz e alegria, mas muito mais de tristezas e sofrimentos. Não há
quem não chegue numa janela, comece a avistar o horizonte adiante e não sinta
saudade. E tudo surge como uma paisagem antiga, um retrato em preto e branco,
com sorrisos e feições de quem está muito distante ou já não existe mais.
Aliás, foi da janela que acenou o lenço de adeus. Era um dia chuvoso, de chuva
fininha, mas ainda assim o enterro passou. Foi a primeira vez que usou um lenço
de despedida. Mas depois daquele aceno, daquele último adeus, tantas vezes os
acenos se repetiram. E cada vez mais molhados, chorosos, sofridos. As dores da
vida daquela janela. De fora ninguém avista, mas há sempre alguém do outro lado
da janela, ou mesmo atrás da fresta, com olhar tristonho que se derrama em
pranto.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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