*Rangel Alves da
Costa
Que coisa
mais estranha! Não cometeu qualquer crime. Não incorreu em pecado mortal. Não
transgrediu as leis da existência. Nada praticou que não estivesse dentro da
normalidade. Mas de repente e já estava condenado.
E que
terrível condenação: Ser colocado numa rede de varanda, de frágeis trançados e
ainda mais frágeis cadilhos, estendida por cordas velhas e carcomidas. E a rede
armada numa altura que abaixo não se sabia se havia terra ou mar.
Algo
verdadeiramente inimaginável. No alto mais alto, uma rede frágil estendida e
dentro dela um ser humano cuidadosamente deitado, temeroso de tudo e sem saber
qual a razão daquele infortúnio.
Sentia a
fragilidade da rede, do pano, dos trançados, dos cadilhos, das cordas que a
seguravam pelas pontas. O pior que sabia que não duraria muito tempo para o
cadilho quebrar, o pano se abrir ou a corda rebentar.
Já havia
olhado para baixo e quase nada conseguiu avistar. Reconhecia-se numa altura
rente ou além da nuvem. Cair dali seria um terrível fim, a morte certa. E o que
mais lhe passou a doer foi a sensação de aproximação desse fim.
A qualquer
momento o seu fim poderia chegar. Mesmo com uma semana, um mês ou mais,
qualquer hora algo rebentaria e despencaria lá de cima. E também, ante a
fragilidade da rede e sua sustentação, tudo poderia acabar no instante
seguinte.
O que
fazer, então? Gritar de nada adiantaria, chamar por alguém seria impossível.
Pular da rede seria loucura, ou apenas antecipar seu fim. Sequer encontrava
forças para refletir sobre a terrível situação, para procurar entender o porquê
de aquilo estar acontecendo.
Fechou os
olhos. Então ouviu um rangido nas cordas. Estariam se partindo? Orou, se
preparou para a morte, implorou que fosse rápida e sem dor. Mas o tempo foi
passando e nada de a corda rebentar de vez. Prolongou-se o silêncio.
Ante o
silêncio, então imaginou que não seria ainda daquela vez. Pensou em dormir um
pouco, descansar a mente atormentada, mas bastou fechar os olhos e sentiu que
um dos cadilhos se desprendeu. E assim logo aconteceria com todos.
O susto
foi tamanho que se mexeu com mais força do que deveria. Sabia que quanto mais
rápido a rede fosse forçada mais acelerado o pior aconteceria. Mesmo sonolento,
angustiado e aflito demais, temia novamente fechar os olhos para adormecer.
Mas as pálpebras
já pesavam, doía-lhe a cabeça, o coração, tudo. E, nesse estado, foi levado a
adormecer sem querer, mas um sono tão leve que sentiu e ouviu um som de rasgão.
Abaixo do seu corpo o pano da rede abria uma pequena fenda. Vai ser agora,
pensou.
Já não sabia
se estava acordado ou adormecido, já nem conseguia pensar claramente sobre
qualquer coisa. Então começou a dizer a si mesmo, em silêncio, que já não
suportava mais, que aquela situação já havia lhe exaurido completamente. E
implorou para tudo rebentar de uma vez.
E foi
além: fez impulso para se jogar. Mas parou quando ouviu o som de cadilhos
quebrando e de outros rasgões no pano da rede. Voltou-se à última oração,
fechou os olhos e esperou tudo rebentar. Mas novamente o silêncio.
Com a persistência
do silêncio, e decidido a resolver logo de uma vez por todas aquela situação,
então começou a se revirar, a se sacudir dentro da rede. Os rasgões aumentavam,
os cadilhos se partiam ainda mais, as cordas de sustentação pareciam afinar
continuamente. Vai ser agora, novamente pensou.
Mas o
silêncio voltou. Ele começou a chorar toda a dor do mundo. Tão desesperado
estava que implorou pela morte. Foi quando sentiu o vento soprando forte, de
forma cada vez mais voraz. Uma ventania impensável naquele espaço tão alto.
Então a
corda rebentou e os últimos cadilhos se quebraram. Contudo, no mesmo instante
que a ventania cuidava de levá-lo com sua força. E pelos espaços foi seguindo
até cair de vez.
Morreu?
Não. Todo mundo sobrevive aos pesadelos e da triste experiência levanta para os
enfrentamentos da realidade, carregando suas lições e acordado para os sonhos
bons.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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