*Rangel Alves da Costa
Toda vez que viajo para os lados do sertão,
logo avisto um menino - o mesmo menino - já nos caminhos mais secos e áridos
das distâncias sertanejas. Mora numa casinha pobre, de barro e cipó, de beira
de estrada, numa desolação de doer coração e mente. Outra pessoa eu não consigo
avistar, apenas o menino, sem camisa, de bermuda carcomida de tempo, descalço,
cabelo fino desgrenhado. Possui olhos negros, vivos, numa face marcada pela
simpatia, mas com aspecto sempre tristonho. Ora o avisto debaixo do umbuzeiro,
brincando com ponta de vaca, ora correndo pelos cantos, atrás do cachorro
magro, ou mesmo mexendo e remexendo em gravetos, garranchos, tocos de paus. Assim
que vou passando em frente e olho para os afazeres, ele sempre levanta o olhar
e fica mirando na minha direção. Por vezes levanta, apruma ainda mais os olhos
entristecidos e vai acompanhando minha passagem. Quando, já na curva da
estrada, olho para trás, é certeza de avistá-lo ainda naquela posição e com o
mesmo olhar na minha direção. Qualquer dia desses paro o carro e peço licença
para um proseado ligeiro. Muito tenho que falar com aquele menino. Perguntar
quem são seus pais, se está estudando, por que sempre está defronte ou pelos
arredores do casebre, indagar sobre muita coisa. É um mundo que preciso conhecer, pois um
menino num mundo que também é o meu. E também me certificar se aquele menino
não sou eu.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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