SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sexta-feira, 24 de junho de 2016

Palavra Solta - o menino da casinha da estrada


*Rangel Alves da Costa


Toda vez que viajo para os lados do sertão, logo avisto um menino - o mesmo menino - já nos caminhos mais secos e áridos das distâncias sertanejas. Mora numa casinha pobre, de barro e cipó, de beira de estrada, numa desolação de doer coração e mente. Outra pessoa eu não consigo avistar, apenas o menino, sem camisa, de bermuda carcomida de tempo, descalço, cabelo fino desgrenhado. Possui olhos negros, vivos, numa face marcada pela simpatia, mas com aspecto sempre tristonho. Ora o avisto debaixo do umbuzeiro, brincando com ponta de vaca, ora correndo pelos cantos, atrás do cachorro magro, ou mesmo mexendo e remexendo em gravetos, garranchos, tocos de paus. Assim que vou passando em frente e olho para os afazeres, ele sempre levanta o olhar e fica mirando na minha direção. Por vezes levanta, apruma ainda mais os olhos entristecidos e vai acompanhando minha passagem. Quando, já na curva da estrada, olho para trás, é certeza de avistá-lo ainda naquela posição e com o mesmo olhar na minha direção. Qualquer dia desses paro o carro e peço licença para um proseado ligeiro. Muito tenho que falar com aquele menino. Perguntar quem são seus pais, se está estudando, por que sempre está defronte ou pelos arredores do casebre, indagar sobre muita coisa.  É um mundo que preciso conhecer, pois um menino num mundo que também é o meu. E também me certificar se aquele menino não sou eu.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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