*Rangel Alves da Costa
Sebastiana, ou simplesmente Bastiana, mulher
forte, sertaneja, sem se dobrar nem se curvar a nada, a não ser às enfermidades
e aos desejos de Deus. Acostumada a sofrer, a padecer, a se virar como podia a
cada nova estiagem - uma seca mais angustiante que a outra -, fazia da fé seu
sustentáculo ante os sofrimentos da vida. Por isso nunca chorava. Sempre dizia
que tinha de suportar na firmeza os desígnios sagrados. Mas um dia faltou
comida, faltou-lhe o pão, e tudo. Então chorou quando abriu a porta e viu um
vizinho que chegava para dividir o quase nada que tinha. E novamente chorou
quando, num amanhecer sertanejo, abriu a porta e se viu diante do filho desde
muito arribado para terras distantes. Era o retorno mais esperado do mundo,
desde muito implorado em promessas, orações e rezas para todos os santos.
Contudo, chorou mais ainda ao sentir que o retorno em momento tão difícil, de
dificuldades e aflições, seria sofrimento pra dois. Mas calou-se e fez com que
ele experimentasse um pedaço de preá na brasa. Era tudo o que tinha. Preocupada
com o dia seguinte e os vindouros, não dormiu naquela noite. Mas sentiu um
sopro de vento diferente, um murmurejar diferente pelos ares, e abriu a porta
para novamente chorar. Era chuva muita que vinha chegando ao seu sertão. Chorou
de alegria.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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