*Rangel Alves da Costa
Logicamente
que o vento não fala, a ventania não brada, a brisa não murmureja. Contudo,
dependendo do instante de cada um, de sua propensão mental ou sentimentalista,
certamente que muitas vozes são ouvidas com a passagem dos açoites do
entardecer. Então o vento surge com palavras, com vozes, com canções e
segredos, ou mesmo com gritos e algazarras. O romântico solitário, debruçado à
sua janela, mirando os horizontes e desenhando com o olhar o nome de sua amada
distante, ou mesmo inexistente, vai ouvindo segredos e mais segredos. As
palavras leves, meigas, doces, são levemente açoitadas e chegam dizendo que ela
está linda, que ela usa batom vermelho, que o seu cabelo está solto, que ela
está descalça, que ela escreve um poema de amor, que ela está entristecida, que
ela está sentindo frio num cantinho do sofá. Ou que ela acabou de tirar a roupa
para tomar banho. Está nua, uma deusa nua, de corpo florido e primavera na
pele. Então, ele enlouquece, entontece, perde a noção de tempo e de realidade.
Até que chegue a ventania para dizer: Deixe de ilusão, deixe de delírio ao
sabor do vento. É tudo fantasia, é tudo quimera. Deixe de sonhar, vá atrás, vá
lutar pelo seu sonho e construir seu amor...
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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