*Rangel Alves da
Costa
Quando se
diz que o poder tiraniza as pessoas, as embrutece e as torna mais arrogantes,
não tenha isso como mero argumento opositor. É tudo verdade. Assim também com
os governantes, os mandatários e todos aqueles que se imaginam num pedestal e
em posição superior aos vassalos. É um distanciamento entre o mando e a
submissão, entre a ordem e o fiel cumprimento. Não sabe, contudo, que é mais
fácil cair da escada quem está no topo do que aquele que permanece no chão. E
uma queda com consequências inimagináveis, e bem ao lado dos pés do quem tanto
foi escravizado.
A solidão,
o silêncio e a tristeza, são aspectos por vezes úteis e necessários ao ser
humano. É tudo verdade. A pessoa não precisa estar passando por momentos
difíceis para se revelar entristecida. Não se mantém recolhida dentro do quarto
ou num cantinho da sala porque necessariamente esteja cheia de amarguras,
angústias e desilusões. Não procura se afastar do convívio dos demais, e na
solidão se manter escondida, porque o mundo não mereça sua presença. A pessoa
necessita de instantes somente seus, de momentos de reflexão interior, de
recolhimentos imprescindíveis ao reencontro consigo mesma. Não significa estar
solitária, silenciosa ou triste, mas tão somente mais perto de si.
A fé é
remédio infalível, pois tem o dom da cura e do renascimento. É tudo verdade. A
pessoa que se apega na crença inabalável do poder divino sobre os males do seu
corpo e de sua alma acaba alcançando verdadeiros milagres. A ação da fé é tamanha
no ser humano que supera toda ciência, toda medicina, todo remédio, toda
fórmula. Muito já se comprovou que o diagnóstico da medicina, quando não
encontra no medicamento laboratorial uma cura ou diminuição dos males, é
silenciosamente combatido pela fé. A pessoa tem tanta confiança que a força
divina trará sua cura, e a essa crença se apega com toda força ainda existente,
que os males se dissipam e a vida prossegue como verdadeiro milagre.
Personagens
fictícios surgem e passam a ter existência tão reconhecidamente viva que,
muitas vezes, se tornam mais humanizados que muitos humanos da vida real. É
tudo verdade. Saídos dos livros, novelas e filmes, os personagens passam a ter
vida mais longa que o próprio homem. Gerações passam e eles permanecem vivos
nas estantes, nas telas, nas reapresentações das novelas. Contudo, é na memória
coletiva que possuem existência e moradia, que se fazem presentes em todos os
instantes de recordação. Quem poderia dizer que Scarlett O’Hara e Rhett
Buttler, de E o Vento Levou, não tomaram formas humanas e existiram de verdade.
Gabriela, Dona Flor, Teresa Batista, Sargento Getúlio, Sinhozinho Malta,
Porcina e Roque Santeiro, são reconhecíveis como pessoas ou não?
A
escravidão foi a mais abjeta forma de sujeição humana, a mais horrenda
manifestação do homem para com o seu próximo, e a mais bestializada tentativa
de transformar pessoas em bichos, em animais, em reles sombras de existência. É
tudo verdade. E uma verdade que ainda dói pela sua maldade, pela sua dureza e
desumanidade. Uma verdade que, de tão covarde, nunca foi e nem jamais será
justificada. Não se pode, senão pela vergonha e arrependimento, justificar que
o homem se arvore da cor para submeter outra cor, se hasteie numa raça para
humilhar e mortificar outra raça, que sustente sua ação pelo ódio não do outro,
mas do seu próprio coração, supondo-se que existisse. E o tempo ainda não
apagou, não silenciou, nada enterrou de tamanha vileza. Ainda vagam os
fantasmas do banzo, ainda ecoam os gemidos de dor, ainda são ouvidas as
chibatadas, o sangue ainda respinga da pele negra. E há toda uma sociedade
ainda escravizada pela cor que continua sendo açoitada, perseguida e humilhada
pela sociedade senhorial.
Os anjos
existem e neste momento estão guardando e protegendo todos aqueles que os
acolhem no coração, na fé e na obediência aos ensinamentos sagrados. É tudo
verdade. Anjo da guarda, anjo guardião, ser sublime e afetuoso enviado dos céus
para estar ao lado, prover, interceder, proteger e guardar seu protegido
perante as forças nefastas do mundo. Amparo e escudo, é a voz silenciosa
ecoando, é a motivação de repente surgida. Aponta a estrada, guia os passos,
faz renunciar às escolhas. Mesmo não sentindo, o anjo sopra aos ouvidos, diz
sobre o melhor a ser feito, sugestiona o coração, provoca disposições para o
bem, tudo faz para evitar a ocorrência do mal. Também age como o ser consciente
ao lado do ser duvidoso. É presença que aconselha o espírito, predispõe a alma,
fortalece a vida.
O poeta já
disse que há mais coisas entre o céu e a terra do que possa imaginar nossa vã
filosofia. O mundo, a vida e a existência, são todos entremeados de mistérios e
desconhecidos. Daí que muito do que se reconhece como existente e verdadeiro,
de repente se mostra na outra face, negando o acreditado. Contudo, coisas
existem que jamais podem ser negadas, seja pelos exemplos vivos da história,
seja porque interiorizadas como crenças absolutas, seja porque, mesmo qualquer
explicação, acabam acontecendo. E são estas as verdadeiras verdades.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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