*Rangel Alves da Costa
O deserto é quente, é áspero, é árido, é
cortante, é estarrecedor. O deserto é voraz, é faminto, é extenuante, é assustador.
Não há sombra nem arvoredo frondoso para um repouso. Não há folha de relva nem
resto de um jardim florido. O deserto é apenas deserto mesmo. Quente,
escaldante, apavorante. Ainda assim há que se caminhar por suas areias, e
descalço, de pés sobre o seu manto abrasado. Não é promessa, não é penitência
nem sacrifício por desejo próprio, mas uma imposição da vida. Todo mundo
caminha por um deserto assim. Não encontro ninguém que diga seguir por uma
estrada maravilhosa, por um caminho perfeito, através de canteiros floridos e
fontes de águas frescas. Todo mundo reclama do seu passo, de sua estrada, de
seu destino. E assim por que viver é sacrifício, é luta, é incessante
prosseguir por cima de espinhos e brasas. Viver é experimentar, a cada
instante, o fogo sob os pés, as areias escaldantes, as fornalhas queimando
tudo. Por isso mesmo ninguém para e vai se deitar sobre a sombra. Não há tempo,
nada lhe permite fazer assim. Tem de seguir, tem de enfrentar a curva, tem de
sobreviver na distância. Mas nada que afaste a esperança e sempre almeje a
melhor chegada. Sabe que a vida é assim mesmo, é um andar descalço no deserto,
num passo que outra coisa não busca encontrar senão a felicidade. Uma
felicidade qualquer.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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