*Rangel Alves da
Costa
Pequenos
problemas, mas que acabam se avolumando porque não resolvidos. Coisas simples
de serem solucionadas, mas quando postergadas provocam consequências as mais
danosas e desgastantes possíveis.
“E lá na
distância apenas uma aspecto diferente no ar. Parecendo formação um pouco mais
espessa de poeira, como um pequeno torvelinho localizado, nada parece assustar,
senão pela sua aparência de crescimento e movimento...”.
As perdas,
as distâncias, tudo isso causa muito sofrimento e dor. Mas não que se assentem
na alma para o restante do viver. Ninguém pode fugir aos instantes de tristeza,
de aflição e melancolia, porém não se deve abraçar o punhal que fere como
melhor conforto.
“Ainda
está muito distante. Contudo, pelo que se avista, o chão arenoso parece subir
em cone pelo ar e depois girar em se mesmo, mais forte, com força maior cada
vez mais. De repente, o espesso funil começa a se arrastar e vai avançando em
açoite feroz...”.
Os dias
amanhecem sombrios, por vezes. No coração, um desalento danado. Nada fez para
despertar assim, nenhum motivo aparente para que assim aconteça. Uma vontade de
chorar, uma vontade de soluçar embaixo dos travesseiros, uma vontade até de
sumir. Mas vale a pena alimentar o dia com esta gota de veneno do alvorecer?
“Ao longe,
apenas uma ventania forte, porém localizada. No seu centro, um turbilhão, e uma
nuvem de poeira pelos arredores. Parece ter vida própria, pois se alonga, se
alastra, vai rapidamente seguindo e levando consigo tudo o que pela frente
encontrar...”.
Um adeus
inesperado, uma perda tida como irreparável. Nunca se compreende que a vida é destino e fim, é um chegar e
partir, é um sorriso e uma despedida. E faz da lágrima a vida, e faz da dor a
existência, e consumindo se vai até não mais ter forças para reagir. Como folha
ao vento, vai se deixando levar no que lhe resta viver.
“Sua
proximidade já é visível, sentida, inafastável. O que se imaginou apenas uma
formação de areia, agora se mostra verdadeira ameaça. É areia, é vento, é
sopro, é força, é avidez de destruição. Vai levantando pedra por onde passa,
vai derrubando tudo no seu caminho...”.
Sim, uma
simples saudade. Saudade boa, pois amorosa, de vontade e desejo de reencontrar.
Mas o tempo passa, nada de reencontro, nada de retorno, nada de abraços e
palavras. O que aconteceu? Imagina-se que tudo acabou sem um fim. Então a
saudade se transforma em tormento, o tormento em desespero, o desespero em
loucura...
“Nada fica
em pé no seu caminho, a não ser seu próprio cone que, cada vez mais forte e
voraz, avança cada vez mais rápido. Destroços são avistados ao fundo, pelo ar
são divisadas nuvens empoeiradas. Sem destino certo, arremete ziguezagueando,
cobra feroz levantada no ar...”.
Poucos
compreendem a esperança como caminho de salvação. Alguns, por já terem
esperando tanto, acabam desistindo dos sonhos e planos. Outros, já descrentes
nas suas possibilidades, se entregam aos desconsolos e aflições. Em pessoas
assim, de alma e espírito fragilizados, qualquer sopro de ventania se afeiçoa a
redemoinho.
“Sim, é um
redemoinho. É um turbilhão. Uma ventania que se forma fina e localizada, mas
que, num crescente, vai alcançando poder de destruição sem igual. A tudo leva,
a tudo arrasta, a tudo destrói. E quase não há proteção contra sua chegada,
quase não há saída quando se aproxima...”.
Assim
também os redemoinhos na vida, fatos, coisas e situações que nascem simples,
mas que, quando não domadas na sua raiz, acabam provocando consequências
devastadoras. Quando se imagina que se está adiante de apenas uma situação
desconfortável e que possa ser resolvida a qualquer instante, surge então o
doloroso reconhecimento do total descontrole, eis que sua voracidade já
corroendo por dentro.
“Não se
sabe ao certo se tormenta, se furação, se tornado, se tufão ou qualquer outro
fenômeno devastador da natureza. Sabe-se apenas que nasceu como simples grãos
de areia se movendo, que transformados em poeira em pó, como redemoinho foi
caminhando. E por onde passou deixou somente restos, destruição e medo...”.
Então olhe
pela janela da alma e veja como está o seu deserto ou sua praia de brancura na
areia. Sinta se o vento se levanta dentro de si, sinta se o seu espírito não
está propenso a tempestades. Tudo faça para que somente a brisa sopre pelos
quadrantes, mas sempre temendo acaso aviste uma folha seca passando diante do
olhar.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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