*Rangel Alves da Costa
Tudo faz o amor, tudo faz a paixão. O
desejoso de ser correspondido nos desejos do coração, não se nega a
sacrifícios, não possui medidas na ação. Quando apaixonado, então, desconhece
riscos e perigos, enfrenta situações improváveis e, sorridente, se escraviza
aos ímpetos mais enlouquecidos e transbordantes. E foi assim que ele,
apaixonado, roubou a flor no jardim e foi até à janela da bela donzela. Mesmo
sem jamais ter escrito qualquer verso rimado, se fez de poeta e rabiscou versos
e triversos, todos submersos em flores e perfumes de jardins primaveris, e foi
até à janela da bela donzela. Vestiu a melhor roupa, colocou o perfume mais
adocicado, penteou os cabelos com brilhantina, se olhou setenta e duas vezes no
espelho, para depois seguir com flor roubada em jardim até a janela da bela donzela.
Suspirou, respirou, transpirou, se refez, e seguiu. Não sabia se caminhava ou
se corria, se já começava a sorrir ou demonstrar tristeza, sequer sabia o que
fazer depois que entregasse a flor e declamasse seu livro de amor. Resolveu
cantar, e cantou. Na última esquina ainda cantava alegre. Mas repentinamente
entristeceu. A janela estava fechada e não havia nenhuma bela donzela. Chorou,
sofreu, pensou que ia morrer de dor de amor. Mas sobreviveu. Mas enlouqueceu. E
ainda hoje, mais de trinta anos depois, é avistado perambulando ao redor da
janela. Com flor de plástico à mão.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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