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quarta-feira, 20 de julho de 2016

Palavra Solta - quando toda a tribo chorou a morte do Grande-Pássaro


*Rangel Alves da Costa


O Grande-Pássaro morreu. E toda a tribo chorou. Mas desde muito que o pássaro havia deixado de voar. Desde muito que lentamente morria. Morria nas águas do rio, morria na falta de alimento para a tribo, morria na perda dos costumes e tradições mais antigas, morria com a epidemia branca que se alastrava por todo lugar, morria com os modismos tomando lugar dos antigos rituais e preceitos de vida, morria no forasteiro que chegava para tudo transformar. Quando o velho cacique reuniu o conselho dos anciãos e relatou sua preocupação com o sumiço do Grande-Pássaro, toda aquela ancestral sabedoria já sabia dos tempos difíceis que se abateria sobre toda a tribo. Mas se avistava o Grande-Pássaro voar? Na brisa do entardecer, no sopro do vento bom, na copa das árvores tomada de frutos, nos rios límpidos e nas águas piscosas, na festa tribal, na pintura de urucum sobre a pele, na nudez sem malícia, na mandioca farta e no beiju assando na brasa. O Grande-Pássaro voando pelas terras e seus frutos, pelas fogueiras para espantar os maus espíritos, nos batismos de fogo, na cantiga passarinheira ao alvorecer. Nada disso existe mais, ou quando existe é um arremedo de existência, pois tudo triste, lacrimoso, aflitivo. Aquele povo não é mais raiz nem fruto. Até a moradia de cipó e folha deu lugar ao tijolo e à telha. E o Grande-Pássaro, sem poder voar e avistar a vida sob suas frestas, simplesmente sumiu. E morreu.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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