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quarta-feira, 27 de julho de 2016

Palavra Solta - moringa d’água no umbral da janela


*Rangel Alves da Costa


Como diz o poeta, jamais esquecerei que havia uma moringa d’água no umbral da janela, que uma moringa d’água era sempre avistada no umbral da janela. Tudo no meu tempo antigo, coisa pra mais de cinquenta, cem anos ou mais. Sim, já vivi esses anos todos, já caminhei por todas as estradas, já bebi da lua e já mordi do céu. Nas minhas andanças mundão afora, como andarilho, caixeiro-viajante, comboieiro, e sejam lá quantos outros ofícios já tive, passei por muita porta de beira de estrada, por muita janela fechada e aberta, mas nenhuma igual aquela que tinha uma moringa d’água na janela. Ora, e é muito fácil explicar o motivo. No casebre de Sinhá Filó sempre havia uma mesinha com cocada de coco do lado de fora, rente à porta. Então o cabra chegava cansado, faminto, e adoçava a boca naquela gostosura. Mais um e mais outro pedaço, quase o tacho inteiro. E depois olhava de lado e avistava a moringa na janela. Caneca limpinha, chegando a alumiar ao sol, recebia aquela água refrescada pela ventania que chegava. E não havia nada igual. Depois pagar um vintém e descansar debaixo da quixabeira. Eita sonho bom, eita água boa se derramando na boca. E assim a vida e as relembranças daquela moringa no umbral da janela. 


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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