*Rangel Alves da Costa
Como diz o poeta, jamais esquecerei que havia
uma moringa d’água no umbral da janela, que uma moringa d’água era sempre
avistada no umbral da janela. Tudo no meu tempo antigo, coisa pra mais de
cinquenta, cem anos ou mais. Sim, já vivi esses anos todos, já caminhei por
todas as estradas, já bebi da lua e já mordi do céu. Nas minhas andanças mundão
afora, como andarilho, caixeiro-viajante, comboieiro, e sejam lá quantos outros
ofícios já tive, passei por muita porta de beira de estrada, por muita janela
fechada e aberta, mas nenhuma igual aquela que tinha uma moringa d’água na
janela. Ora, e é muito fácil explicar o motivo. No casebre de Sinhá Filó sempre
havia uma mesinha com cocada de coco do lado de fora, rente à porta. Então o
cabra chegava cansado, faminto, e adoçava a boca naquela gostosura. Mais um e
mais outro pedaço, quase o tacho inteiro. E depois olhava de lado e avistava a
moringa na janela. Caneca limpinha, chegando a alumiar ao sol, recebia aquela
água refrescada pela ventania que chegava. E não havia nada igual. Depois pagar
um vintém e descansar debaixo da quixabeira. Eita sonho bom, eita água boa se
derramando na boca. E assim a vida e as relembranças daquela moringa no umbral
da janela.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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