*Rangel Alves da Costa
A solidão morreu. Não se sabe ao certo se
ontem, em tempos outros, ou ainda nesta manhã. Mas ela morreu, a solidão se
findou, repentinamente exauriu. Um alvoroço danado com a notícia, tendo gente
que não queria acreditar de jeito nenhum. Outro gritou ser impossível de ter acontecido,
pois a solidão estava com ele, vivia com ele, dentro de si. Mas o sino dobrou o
triste badalar e então não houve mais como desacreditar do seu desaparecimento.
Muita gente chorou o vazio e o mar, muita gente sorriu um sorriso imperfeito,
muita gente dançou a falsa sem passo, muita gente gritou baixinho, muita gente
subiu ao monte e uivou como lobão apunhalado no peito. Tudo isso pela solidão,
pela morte da solidão. Contudo, fato é que absolutamente ninguém se mostrou
adiante da solidão e sua morte, ninguém compareceu à sua sentinela, ninguém se
fez presente no seu velório. Um silêncio sepulcral, paisagem brumosa de
ventania e açoites cantantes. Ária triste, sonata em piano noturno. Sequer uma
vela velando a solidão. Sozinha vivia, sozinha morreu e sozinha foi velada pela
solidão. Mas qual? Aquela solidão sempre existente e que ninguém deseja aceitar
como inevitável ao ser.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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