Rangel Alves da Costa*
De repente me vejo como aquele escravo
definhando de saudade na escuridão deplorável de um navio negreiro. O negro
africano sentia uma saudade incontida de sua terra, de seu povo, de seu viver,
como se dali em diante a vida houvesse perdido todo o significado, e por isso
que ia definhando até morrer. E de vez em quando tenho uma saudade assim, tão
profunda e melancolicamente triste que sempre imagino não conseguir aportar na
margem seguinte. Contudo, não uma saudade amorosa, familiar ou pessoal, mas
algo tão estranho como o próprio sentimento de se querer ter algo que não se
conhece, porém tão importante na vida. Talvez o mistério das existências outras
que nos chegam no espírito presente, talvez os segredos de uma mente despertada
para realidades somente por ela conhecida. Não sei, não sei. Sei que na saudade
surge uma janela e uma flor, surge uma porta e uma voz, surge uma árvore e uma
sombra, surge uma lua e um silêncio profundo. Mas surge muito mais,
principalmente uma estrada que vai se distanciando, afinando, se perdendo ao
longe. Para depois surgir à mente que paz é o nome daquela estrada. Sim, talvez
de paz seja a minha tão grande saudade, esse banzo que tanto aflige e
atormenta.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário