*Rangel Alves da
Costa
Às vezes,
depois de tanto tempo pedindo, rogando, implorando, ajoelhando-se aos pés do
altar, fazendo flamejar velas e louvações, tudo parece desanimar quando nada
acontece, quando nada é resolvido, quando os mesmos tormentos continuam
afligindo a alma e todo o ser.
Não é por
falta de fé, de orações, de missas e silenciosas e aflitivas conversas perante
as imagens dos santos e anjos e da divindade maior. Não é por falta de crença e
esperança, pois sempre há a certeza que as graças divinas logo chegarão em
auxílio. Mas ainda assim nada acontece.
Também não
é pela religiosidade de momento ou pela busca de Deus somente em estados de
precisão e necessidade. Do mesmo modo, não é pela fé extravasada apenas ante as
carências, os perigos e as atribulações. É fé contínua e permanente, firme na
crença e no poder de Deus. Mas ainda assim nada modifica o estado já
desesperador.
Verdade
que muitas pessoas se valem das preces e obediência aos ensinamentos somente
quando estão desafortunadas. De repente, uma forçada e exacerbada religiosidade.
O seu Deus, contudo, se torna força apenas para aquele momento, para aquela
determinada situação, pois depois de o problema resolvido tudo será esquecido.
Nenhuma prece sequer. Contudo, a situação é outra.
A pessoa
exala verdadeiramente a sua fé, tem consciência do seu dever de amor e
obediência a Deus e aos seus ensinamentos, e assim age em todos os momentos da
vida. Foge do pecado, é fiel aos mandamentos, procura se manter numa existência
digna de reconhecimento sagrado. Mas quando mais precisa mais se sente
abandonada por aquilo que tanto confia.
E se
indaga: O que mais devo fazer para ser ouvido e auxiliado por Deus? Onde errei
na minha fé, na minha pregação e na minha obediência, que agora preciso de
ajuda e nada obtenho como resposta de salvação? Quantas preces, quantas velas,
quantas promessas, quantas lágrimas haverei de derramar para que o meu clamor
seja ouvido?
Deus, meu
Deus, por que me abandonaste?! Em situações assim, não há como fugir de tal
indagação. Será que mereço sofrer tanto até ser ouvido, será que preciso me
exaurir de corpo e alma até que a dádiva sagrada chegue em meu auxílio, será
que terei o martírio das horas, dos dias e do tempo, até que sobre mim recaia
uma benção? Não há como não se indagar, já no limite de chegar à plena
desilusão.
Sim, mas a
religião católica e os ensinamentos litúrgicos sempre dizem que o Deus de
bondade nunca está distante ou se distancia daquele que tem fé e se mostra um
filho fiel. A igreja sempre prega que a hora de Deus é sagrada e que tudo
deverá acontecer no momento certo. Mas por que tanto sofrimento, tanto
padecimento, tanto martírio?
Não
raramente que pessoas desistem de suas igrejas, de suas Bíblias, de sua fé. Não
por que tenha a fé e a devoção como atos de retribuição, mas por que
simplesmente se sentiram abandonadas nos instantes que mais precisavam de ajuda
divina. Não que merecessem ou desejassem que milagres acontecessem nas suas
vidas, mas tão somente que recaísse uma luz perante suas vidas em escuridão.
O ser
humano é frágil demais, tudo lhe traz dor e sofrimento. O homem faz da fé, da
crença e da devoção, exatamente um sustentáculo ante seu frágil poder
existencial. Não é nenhum Jó bíblico que sempre suporta as aflições e padecendo
vai até as derradeiras consequências porque acredita no amor de Deus. Sim Jó
suportou, foi atendido, mas o homem é frágil demais.
Até quando
suportar, se entra dia e sai dia, com as preces e os clamores aumentando, e
nenhum sinal de tempo bom pela estrada? Até quando suportar um mundo de
aflições se tudo cessaria ou diminuiria com um simples querer divino? Deus escuta,
mas parece não ouvir os rogos e clamores. E o que fazer então, quando as
angústias se acumulam e a pessoa, solitária na sua dor, se vê sem nenhuma
saída?
É diante
de situações assim que somos menores em tudo. E até inexistentes na esperança.
Deseja-se apenas um olhar, um sinal, um auxílio sagrado. Mas parece que Deus se
distancia de nossa existência. E, sem Deus, esperar em Deus que o Deus ressurja
como chama de ressurreição. Não há outra fé. Não há outra saída.
Esperar na
fé, pois diz o Salmo 37: Confia no Senhor e faze o bem; habitarás na terra, e
verdadeiramente serás alimentado. Deleita-te também no Senhor, e te concederá
os desejos do teu coração. Entrega o teu caminho ao Senhor; confia nele, e ele
o fará. E ele fará sobressair a tua justiça como a luz, e o teu juízo como o
meio-dia. Descansa no Senhor, e espera nele...
Esperar em
Deus. Jó soube esperar. Mas o sofrimento pode não cessar e o homem é frágil
demais. E mais uma vez repete: Deus, meu Deus, por que me abandonaste?!
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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