*Rangel Alves da Costa
Há uma
moça triste sentada um pouco antes da janela baixa. Numa cadeira de balanço, já
desde muito tempo que está ali, de olhos abertos, avistando o outro lado, porém
imóvel e silenciosa. Do outro lado da janela uma pujança de vida na natureza
exuberante. Verdes e flores, borboletas e colibris, uma brisa mansa que passeia
exalando perfume. Há, porém, muita diferença entre as duas situações antes e
após o limiar da janela. Dois jardins: uma primaveril e outro outonal. Um
outono ocre, desbotado, frágil e quase sem vida na moça triste. Uma primavera
viva, festejante, fulgurante, no jardim e arredores. Difícil saber como se é
capaz de entristecer ante tamanha paisagem. Difícil saber as razões para que
aquele olhar se mantenha tão distante e tão dolorosamente triste. Talvez apenas
mire o outro lado sem nada daquela beleza avistar. Talvez o olhar avistando
distantes nostalgias, recordações, labirintos da alma. Mas certamente um
contraste onde se acentua a misteriosa aptidão do ser à feliz infelicidade.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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